O engenheiro e antigo ministro de São Tomé e Príncipe Osvaldo Cravid Viegas d’Abreu disse hoje à Lusa que "os sinais evidenciam" a existência de petróleo neste arquipélago lusófono africano, alertando, porém, para a "frustração" existente.
"Os sinais evidenciam a existência deste recurso natural, as expectativas continuam a funcionar, agora de forma mais discreta, mas continuamos a ter investimento no país e investidores a chegarem numa perspetiva de que sim, o país tem petróleo e querem cá estar", disse o autor do livro "Petróleo em São Tomé e Príncipe - Os efeitos das expectativas geradas nos agentes económicos", que é apresentado segunda-feira em Lisboa.
"Se não houvesse sinais evidentes e muito concretos da existência de petróleo, não teríamos empresas da dimensão da Petrobras ou da Galp a fazerem pesquisa e a gastarem milhões neste processo", acrescentou nas declarações à Lusa, nas quais salientou que, apesar da provável existência de petróleo em quantidade suficiente para tornar a exploração economicamente viável, há também frustração na sociedade são-tomense.
Analisando as expectativas que há mais de duas décadas estão presentes em São Tomé e Príncipe, Osvaldo d'Abreu disse que, no cômputo geral, há mais vantagens do que desvantagens, ainda que o país não tenha bombeado qualquer barril de petróleo até agora.
"Os aspetos negativos têm muito a ver com a frustração, particularmente dos cidadãos nacionais que se viram prejudicados porque investiram nesta perspetiva de que a economia ia para uma certa direção que não seguiu, e perderam; há construções abandonadas, empresas que acabaram por fechar e famílias e investidores que modificaram o seu 'modus operandi', ampliaram os seus negócios na perspetiva de mais serviços, e há também muitos quadros que direcionaram a sua formação para as minas e muitos estão frustrados porque ficaram com uma formação técnica sem aplicação prática no país", afirmou o autor do livro.
Ainda assim, contrapôs, falar da possibilidade da existência de petróleo trouxe mais vantagens que desvantagens ao pequeno arquipélago lusófono, vizinho da Guiné Equatorial, a leste, e da Nigéria, o maior produtor de petróleo na África subsaariana, a norte.
"Os efeitos das expectativas estão espalhados por todo o território nacional, principalmente entre 2012 e 2014, mas não há um padrão, um efeito unidirecional para dizer se as consequências desta expectativa foram boas ou más mas, no cômputo geral, houve mais aspetos positivos do que negativos", disse Ricardo d'Abreu sobre a expectativa da existência de petróleo nas águas ultraprofundas de São Tomé e Príncipe.
O petróleo, explicou, "colocou São Tomé e Príncipe no mapa como um lugar mais conhecido e como um lugar com algum interesse para o investimento, o que antes da assinatura do memorando [de exploração petrolífera], em 1997, não acontecia, e isso foi encarado como [o país podendo vir a ser] um grande produtor de petróleo e, com a pouca população que tem, isso podia mudar radicalmente a vida das pessoas", acrescentou, lembrando os "grandes investimentos associados diretamente à perspetiva da exploração na área turística, da construção civil e do comércio, para além das infraestruturas".
A possibilidade de existência de petróleo ao largo da costa de São Tomé e Príncipe tem motivado o interesse das grandes petrolíferas, como a TotalEnergies ou a Galp, que lançou uma missão exploratória, mas até agora ainda não há estudos comprovados que mostrem que a quantidade de petróleo existente é economicamente viável, ou seja, que os custos de extração e exploração são compensados pela venda do crude no mercado.
A Semana com Lusa
Terms & Conditions
Subscribe
Report
My comments