Dezasseis meses volvidos desde que a China reabriu as suas fronteiras, as empresas europeias continuam a registar crescente "dissociação" entre as suas operações no país e as respetivas sedes, segundo um inquérito hoje divulgado.
Num novo relatório, a Câmara de Comércio Europeia na China assinalou o aumento acentuado do número de empresas que registaram uma "dissociação" entre as suas sedes e as operações na China, nos últimos dois anos.
Isto gerou "um abrandamento das operações existentes e menor capacidade de capitalizar novos projetos ou planos de investimento" na China, lê-se no relatório, que abrange as respostas de 529 empresas europeias.
Apesar dos esforços da China para manter a sua atração, o investimento direto estrangeiro no país caiu 26%, durante o primeiro trimestre deste ano, em termos homólogos, para 301 mil milhões de yuan (39 mil milhões de euros), de acordo com dados oficiais.
Ker Gibbs, antigo presidente da Câmara de Comércio dos Estados Unidos em Xangai, a “capital” económica da China, salientou o facto de haver menos funcionários expatriados em posições-chave nas operações na China, o que dificulta a comunicação com as sedes e resulta numa imagem menos clara do que está a acontecer no país.
"A informação e o investimento andam a par. Não vais encontrar muitos investidores dispostos a aplicar capital sem confiança na informação com que estão a trabalhar", disse Gibbs, citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.
"A dissociação da China em relação ao Ocidente parece estar a acelerar, com as políticas de Pequim e de Washington a empurrarem nessa direção. Não é isto que a comunidade empresarial quer, mas as pessoas estão a reagir às políticas e ao clima geral", explicou.
"As restrições impostas aos jornalistas correspondentes também não ajudaram. Estamos a receber menos histórias da China, e [estas são] frequentemente relatadas por pessoas em Seul ou Singapura, e não a partir do país. As restrições aos dados económicos também não ajudaram", descreveu.
Gabor Holch, consultor e autor do livro “Dragon Suit: The Golden Age of Expatriate Executives In China", tem abordado os riscos de uma "localização" excessiva - a substituição de estrangeiros por gestores locais.
Sublinhou a necessidade de os decisores empresariais se basearem cuidadosamente "em dados que reflitam a situação real da China e a situem num contexto regional ou global mais vasto".
Mas isso tornou-se “cada vez mais difícil” nos últimos anos, uma vez que os fluxos de informação foram fortemente restringidos e bloqueados e "trabalhar com o ecossistema digital protegido da China exige uma quantidade surpreendente de transferência manual de dados", acrescentou.
Para Holch, a “última década alargou o fosso por muitas razões".
"O controlo sobre os conteúdos publicados na China aumentou e os investigadores internacionais perderam o acesso às fontes locais. Os gestores locais substituíram os expatriados, mas têm um acesso limitado e ceticismo em relação aos dados publicados internacionalmente”, explicou.
O aprofundamento da divisão entre os ambientes informativos externo e chinês faz com que as sedes das empresas, que dependem de fontes de notícias globais e de investigação cujos autores perderam o acesso à China por razões políticas, “sobrestimem os riscos”, enquanto executivos na China, que estão expostos a fontes selecionadas pelos órgãos oficiais locais, “vejam sobretudo oportunidades".
Holch salientou que os executivos de ambos os lados "têm de trabalhar arduamente para ultrapassar os receios irrealistas em relação à China e a informação politicamente motivada proveniente da própria China".
A Semana com Lusa
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