Jaime Schofield, ex-preso político do Campo de Concentração do Tarrafal e colaborador deste jornal, faleceu hoje, na cidade da Praia, vítima de doença prolongada, disseram familiares à Inforpress.
O corpo, segundo a mesma fonte, vai ser velado em casa da filha, na Achada Santo António, em Santiago, e o funeral está marcado para as 16:00 desta sexta-feira, 03 de maio.
Cidadão honorário do concelho do Tarrafal de Santiago, Jaime foi um dos colaboradores ativos e amigos do jornal A Semana. Mesmo estando com a saúde abalada, as suas últimas crónicas ( A Cultura do Suor) a este jornal em abril de 2022 ( À memória dos pais Ana José da Rocha Schofield e Zalma Soifer Simon Schofield ) consistiram numa longa série sobre a história do Campo de concentração do Tarrafal, em que questiona as intervenções do atual governo, através do ministro da Cultura Abraão Vicente, no referido centro.
«E retornemos a história: ocorre que a data de 26 de março, tantas vezes divulgada pelo Sr. Ministro da Cultura e Representante de Cabo-Verde na UNESCO, que a apresentação conjunta Cabo Verde-Portugal, do projecto Museu da Memória de Txom Bom, criou imensa expectativa! Não era para menos, por várias razões, mormente pelo inedetismo da cerimónia. É que, no mínimo, não foram convidadas as individualidades espectáveis, quais sejam, Sua Excia, o Homólogo Cabo-Verdiano, Sua Excia, o Sr. Presidente da República Portuguesa e dos Srs. Presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal do Tarrafal, a Sra, Ministra da Cultura de Portugal, aos dois últimos Presidentes da Assemleia e da Câmara Municipal do Tarrafal, aos Cidadãos Honorários do Concelho do Tarrafal, aos Combatentes da Liberdade da Pátria e, bem assim, ao Povo de Cabo-Verde e aos Munícipes do Tarrafal. O Sr. Ministro da Cultura de Cabo-Verde tem sido no que ao Museu da Memória, seja quanto às datas, seja em relação aos eventos, um charalatão acabado». Proseegiu, lembrando: «A cerimónia seria representada pelo ministro local e este pelo mais alto Magistrado da Lusa Nação. O Sr. Ministro da Cultura, ultrapassando o bom senso que deve presidir nas relações entre os estados e transformou o Sr, Presidente português num vulgar interlocutor, exibindo-o como se se tratasse de um mero comparsa, tendo transferido o teatro das operações do palácio da Várzea para o de S. Bento! E chegou o grande dia 'nem fumo nem mandado' do presidente convidado. Todo o encenamento caiu fragorosamente, que nem uma dessas casinhas de pobreza construídas numa dessas ladeiras das ilhas», escreveu na primeira parte da série referida.
Vida e obra de Jaime Schofield
Coicidência ou não, Schofield faleceu um dia depois da celebração dos 50 anos do Campo da Contração de Tarrfaal, onde esteve encarcerados como preso político durante alguns anos.
Segundo a Inforpress, Jaime Schofield nasceu em São Vicente a 27 de maio de 1939.
A morte do pai leva-o a interromper os estudos liceais, para trabalhar como professor primário.
A partir de 1965/66 regressa aos estudos para concluir o liceu e, com outros amigos e colegas, nos finais de 1966, organiza uma célula do PAIGC em Santo Antão, a fim de preparar a guerrilha a partir da ilha.
Menos de um ano depois, em 8 de Outubro de 1967, foi, conforme afonte deste jornal, preso pela PIDE, tendo cumprido pena na Cadeia Civil da Praia (Santiago) e depois enviado para o Campo de Concentração de Tarrafal, no início de 1970.
“O grupo (eu, o Lineu Miranda, o Carlos Tavares e o Luís Fonseca) chega acompanhado pela PIDE. Fomos recebidos pelos polícias portugueses que faziam a guarda do Campo de Concentração e somos internados.(…) Os muros do Campo da Morte Lenta pareceram-me um verdadeiro e imenso túmulo. Pensei que terminaria ali os meus dias. (…) O Campo impressionou-me pela dimensão e estrutura tumular. Para mais, a receção da PIDE, a entrada na caserna, a brutalidade das pessoas, a obediência canina, o meu pensamento era só: ‘daqui não saio’”, relatou no livro ‘Tarrafal-Chão Bom, Memórias e Verdade’ de José Vicente Lopes.
Quando saiu do Tarrafal, em Fevereiro de 1973, Jaime Schofield, prossegue a Inforpress, quis recuperar a sua profissão de professor, o que lhe foi negado, “por causa do contacto com os alunos”, e foi-lhe dado um cargo nos Serviços de Educação, com a categoria de professor primário, mas com subsídio de chefia.
Neste momento de muita dor com a sua morte, o coletivo de A Semana aproveita para enderecer aos familaires de Jaime Schofield as suas sentidas condolências. Faleceu o homem mas os seus ideais de lutador inscánsavel pela cuasa da liberdade, paz e muito amor à pátria cabo-verdiana permencerão na memória de todos nós, servindo de referência sobretudo para os mais jovens.
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