O ex-diplomata moçambicano Mussagy Jeichande defendeu que o 25 de Abril provou que a luta de libertação em África era justa, considerando que os independentistas também contribuíram para a "consciência" da necessidade de pôr fim à ditadura.
"O 25 de Abril significa que a luta projetada pelos povos de Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste era uma luta justa e foi a luta dos nossos povos que permitiu que em Portugal, sobretudo os militares, tivessem consciência da importância de pôr fim à ditadura de Salazar", declarou Mussagy Jeichande, em entrevista à Lusa em Maputo.
O antigo diplomata moçambicano considerou ainda que para os movimentos de libertação nas antigas colónias portuguesas a independência era inevitável, mas a ideia real do impacto da guerra em África para a revolução em Portugal era ainda desconhecida.
"Estávamos convencidos apenas que seria a libertação dos nossos países e nunca imaginaram que, com a sua luta, conseguiriam também a libertação dos portugueses", declarou.
Mussagy Jeichande destacou a importância de Zeca Afonso na luta que culminaria com fim da ditadura em Portugal, considerando que o músico, que viveu por um período em Moçambique, merece espaço no "mosaico histórico" dos países africanos que conheceram “a barbárie" do regime colonial português.
"Não é por acaso que a música 'Grândola, Vila Morena' foi a música do chamamento dos soldados portugueses para a libertação de Portugal da ditadura. Zeca Afonso jogou um papel importantíssimo na mobilização. Portanto, Moçambique e Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde efetivamente deveriam fazer uma homenagem ao Zeca Afonso, que é um grande homem de cultura", declarou Mussagy Jeichande.
Quando se assinala meio século após o 25 de Abril e as independências, Mussagy Jeichande, que se juntou à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) durante a guerra, lembrou que o inimigo para os movimentos de libertação foi sempre o regime colonial e não o povo português.
"O inimigo era o regime colonial português. Entre o povo português e o povo moçambicano não há qualquer barreira. Nós não olhamos para a nossa luta de libertação como um muro entre nós. Nós temos muito a dar e também a aprender com Portugal", concluiu.
A Semana com Lusa
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