quinta-feira, 03 julho 2025

A ATUALIDADE

REPORTAGEM: Produção de carvão vegetal resiste como meio de subsistência na ilha do Maio

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A produção do carvão vegetal continua a ser uma importante fonte de subsistência para muitas famílias na ilha do Maio, apesar da redução da actividade e da diminuição do número de produtores nos últimos anos.

Tomas dos Santos é um dos produtores que se dedica à actividade. Há 32 anos mantém um forno de carvão nas imediações da vila da Calheta, de onde tira o sustento da família e ainda garante empregos temporários à localidade.

“A produção de carvão ainda é uma actividade essencial para a ilha do Maio como meio de sobrevivência de muitas famílias. Eu sou uma dessas famílias, porque a minha vida se resume a isto”, afirmou, destacando que contrata regularmente pessoas para ajudar na produção.

Também o produtor João Garcia, com 30 anos de experiência na localidade de Morrinho, reconhece a importância económica da actividade, não só para os produtores, mas para toda a cadeia que envolve o corte da lenha, a produção, o transporte e a comercialização.

“Todo o carvão que é produzido no Maio é vendido, porque o nosso carvão tem o seu diferencial. Tanto é que as pessoas perguntam: ‘É carvão do Maio?’, ou seja, tem alguma fama”, afirmou, referindo que os principais mercados são as ilhas de Santiago, Fogo e São Vicente.

Apesar da procura, os produtores admitem que a produção tem vindo a perder expressão com o tempo. Tanto Tomas como João produzem pouco mais de cem sacos de carvão por mês, utilizando métodos tradicionais, com fornos escavados no solo e cobertos com estruturas metálicas, localizados a alguma distância das localidades.

A produção é feita com recurso à acácia americana e concentra-se nas zonas de Calheta, Morrinho e Cascabulho. No entanto, segundo os produtores, a falta de lenha tem sido uma das principais dificuldades enfrentadas na produção do carvão vegetal.

A ilha do Maio abriga o maior perímetro florestal de Cabo Verde, com mais de 3.500 hectares de área contínua, que no passado foi espaço de trabalho para muitas mulheres, sobretudo mães solteiras e chefes-de-família que faziam a poda de árvores para conseguir rendimentos. 

Hoje, essa área está sob protecção ambiental e o corte de lenha depende de autorização, o que, segundo os produtores, limita o acesso à matéria-prima.

“Penso que o MAA deveria abrir trabalho na zona florestal, fazer podas controladas e distribuir a lenha aos carvoeiros. A população podia ganhar ao cortar lenha, e seria uma solução temporária para termos matéria-prima”, sugere João Garcia.

A história do carvão está profundamente ligada à história da ilha. Tal como a produção de sal, outro sector que marcou a economia do Maio nos anos pós-independência, o carvão ajudou a sustentar comunidades, alimentou economias familiares e criou dinâmicas de resistência em tempos de escassez.

De acordo com a delegada do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA) no Maio, Teresa Tavares, todos os produtores em actividade estão licenciados e autorizados a recolher lenha de forma controlada nas zonas de regeneração espontânea, como achadas e ribeiras, para evitar o desmatamento.

Sempre que há escassez, segundo a mesma fonte, o ministério tem autorizado podas dentro do perímetro florestal e prepara-se, inclusive, para formalizar um contrato-programa com a Associação Comunitária de Morrinho. Esse acordo irá delimitar zonas de corte e poda para facilitar o acesso dos produtores à lenha e garantir o equilíbrio ecológico.

A produção de carvão no Maio já conheceu dias mais prósperos. Em 2021, havia registo de 103 produtores activos na ilha. Actualmente, segundo o MAA, o número é menor, reflexo da emigração e do envelhecimento dos produtores. 

Hoje, a actividade sobrevive como símbolo da resiliência e da adaptação, num arquipélago que celebra meio século de independência com novos desafios económicos e ambientais pela frente.

 

A Semana com Inforpress

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