Três anos após a introdução da disciplina de Matemática em todas as áreas do ensino secundário, a partir do 10.º ano, alunos e professores consideram a medida positiva, apesar de desafios como a falta de materiais didáticos.
A decisão de incluir a Matemática em todas as áreas do ensino secundário, nomeadamente na área de humanística e de Artes, que antes não contava com a disciplina, foi implementada no ano lectivo 2022/2023, no âmbito da revisão curricular nacional, com o objectivo de preparar melhor os alunos para a vida académica e profissional.
Em declarações à Inforpress, o elaborador do programa curricular da disciplina, Agostinho Monteiro, explicou que o programa desenvolvido visa responder às exigências do mundo globalizado, tendo como principal objectivo dotar os alunos de conhecimentos matemáticos essenciais, como lógica, estatística e sistemas de eleições, que são úteis tanto para a vida profissional como pessoal.
Segundo explicou, temas como lógica, sistemas de votação, partilha equilibrada e estatística foram introduzidos para ajudar os alunos a pensar melhor, argumentar e compreender situações do dia-a-dia, e têm tido retorno positivo, tanto por parte dos alunos como dos professores.
“Nestes três anos tenho ouvido feedback bem positivo, tanto da parte dos professores que trabalharam com a disciplina, bem como alunos também da área humanística têm gostado da disciplina, que antes se via com olhos negativos, mas agora, com a introdução da disciplina, podemos ver que há um feedback bastante positivo em relação à introdução da Matemática na área humanística”, reforçou.
Por sua vez, o coordenador da disciplina na Escola Secundária de Achada Grande, Mário Fernandes, explicou que os conteúdos leccionados, através do programa, têm uma abordagem aplicada à realidade.
“Falamos de Matemática do quotidiano, como modelos populacionais, cálculos financeiros e gráficos. Isso desperta o interesse dos alunos e mostra que a disciplina está ligada à vida real”, afirmou, sublinhando que a Matemática deixou de ser vista como “um bicho de sete cabeças”.
Segundo o responsável, o balanço dos três anos de implementação é positivo, com um aproveitamento visivelmente satisfatório, com alunos mostrando interesse, empenho e evolução notável na disciplina, demonstrando boa aceitação e compreensão dos conteúdos.
Contudo, apontou como obstáculos a escassez de materiais didácticos adequados e o tempo lectivo limitado, sobretudo para aprofundar os temas mais complexos.
“Apesar disso, os professores reconhecem a importância da disciplina. E o Ministério da Educação já garantiu que os novos manuais para o 10.º e 11.º anos estarão disponíveis a partir do próximo ano lectivo (2025/2026)”, acrescentou.
Leandra Monteiro, aluna do 11.º ano na mesma escola, considerou a disciplina “fácil, interessante e muito importante”, destacando a utilidade dos conteúdos para o futuro.
“Aborda temas que fazem parte do nosso quotidiano e que vamos poder usar no dia-a-dia. Acho que é uma mais-valia para todos nós”, disse.
A jovem acredita que a disciplina é útil para o futuro e referiu que os colegas também se mostram motivados, sobretudo por verem a aplicação prática dos conteúdos.
Já um aluno que preferiu o anonimato, disse que no início foi difícil aceitar a disciplina, pois escolheu a área Humanística justamente para fugir da Matemática.
No entanto, com o tempo e à medida que foi conhecendo os conteúdos, começou a gostar, por se tratar de temas ligados ao quotidiano, úteis e que fazem todo o sentido aprender.
A introdução da Matemática em todas as áreas foi apresentada pelo Ministério da Educação como uma medida experimental de três anos.
O director nacional da Educação, Adriano Moreno, esclareceu, na altura, que não se trata de uma uniformização do ensino, mas sim de uma resposta às necessidades do mercado e do ensino superior.
A Semana com Inforpress
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