O presidente do grupo carnavalesco Vindos D`África, José Gomes (Breu), considerou hoje que o Carnaval da Praia evoluiu muito desde a independência e tem potencial para crescer, mas que precisa de mais apoio e reconhecimento.
José Gomes (Breu) contou que particularmente não conhece toda a história do Carnaval da Praia, tendo avançado, entretanto, que há registo desta manifestação cultural desde as décadas de 1930 e 1940.
O carnaval, segundo disse, citando pesquisas e relatos de pessoas mais velhas, foi inicialmente organizado por grupos de elite que desfilavam pelas ruas do Platô, centro histórico da cidade da Praia.
Uma época em que o carnaval convivia com outras tradições locais, como a tabanca, tendo ressaltado que, ao contrário da tabanca esta manifestação cultural “não era proibida de subir ao Platô porque era organizada pelas “elites”.
O responsável do maior grupo carnavalesco da cidade, surgido há praticamente 40 anos, afirmou que o Carnaval da Praia enfrentou desafios resultantes das secas e da fome de 47 que assolaram o arquipélago, provocaram abrandamento desta tradição.
Depois de 75, décadas de 80, salientou que o carnaval começou a erguer de novo e com mais apogeu em São Vicente, justificando que a política existente no momento permitiu que praticamente todo o apoio financeiro fosse canalizado para São Vicente.
“Nos anos 80 o carnaval voltou a crescer, mas os recursos eram direccionados principalmente para São Vicente, fazendo com que grupos da Praia enfraquecessem ou desaparecessem”, afirmou, acrescentando que o fenómeno êxodo rural, que empurrou muitas pessoas para a cidade capital, também impactou a realização do carnaval praiense.
Porque, sustentou, as pessoas vindas do interior para a cidade em busca de melhores condições de sobrevivência, tendo em conta a situação difícil da época, não o valorizavam muito porque trouxeram costumes diferentes da capital.
Segundo José Gomes, Vindos D’África é um dos grupos que surgiram após a independência, em 1986, no Bairro Craveiro Lopes, de onde é natural, a partir de uma “forte dinâmica cultural e social” que existia nesta localidade, com foco na inclusão social e cultural de jovens.
“Apesar de ser um grupo do Bairro, hoje a maioria dos seus integrantes vêm de diferentes localidades da Praia. E Vindos D’África é o grupo mais antigo da capital, junto com Deusa do Amor, nascido um ano antes. Este esteve muitos anos parado após um acidente de viação nos anos 80 após o desfile que vitimou uma pessoa”, disse, sublinhando que só recentemente é que voltou a desfilar.
Contudo, Breu destacou que a cada desfile o seu grupo traz um enredo com mensagem social, cultural e ambiental, com o intuito de sensibilizar a sociedade sobre temas importantes, com dança, teatro, percussão e vestuários bem trabalhados.
“Carnaval é uma manifestação cultural, é como um teatro do palco que se leva para a rua, incluindo o teatro, a dança, a coreografia, coerência temática, ou seja, um conjunto de coisas incluídas que as pessoas não notam”, explicou.
Além do carnaval, assegurou que ao contrário do que as pessoas pensam, que esperam alguns dias antes para prepararem o carnaval, o seu grupo tem desenvolvido actividades durante o ano para engajar jovens, ajudar comunidades e colaborar socialmente.
Mas, lamentou que os grupos carnavalescos na cidade da Praia têm enfrentado actualmente dificuldades por falta de apoios sobretudo financeiros, que chegam somente nos últimos dias antes de saírem às ruas, assim como de espaços próprios para desenvolverem actividades que sirvam também para ensaios.
“O Carnaval da Praia evoluiu muito, tem potencial para crescer, mas precisa de reconhecimento e apoio a tempo de organizar os desfiles, para brindarmos o público praiense com carnaval de melhor qualidade na avenida Cidade de Lisboa”, considerou.
Na sua perspectiva, a falta de vontade política tem prejudicado o desenvolvimento do carnaval na cidade, para quem Praia tem perdido grupos de carnaval e corre o risco de ver a festa enfraquecer ainda mais, se não houver investimento e motivação.
É preciso que o Governo, a câmara municipal aposte porque a capital tem qualidade, tem condições, tem pessoas, tem material, tem jovens e crianças que querem brincar o carnaval”, alertou, afirmando que os políticos precisam de acção mais do que falácias.
Conforme Breu, o futuro do Carnaval da Praia estará também comprometido se se continuar a dar mais ênfase ao Carnaval de São Vicente, não promovendo igualdade de oportunidades aos demais grupos existentes nos diferentes pontos do país.
A Semana com Inforpress
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