A realidade de Vassoura e Fonteana é um reflexo de desafios comuns enfrentados por muitas comunidades rurais, especialmente em regiões onde a urbanização e a modernização ainda não chegaram de forma significativa.
Estas duas comunidades têm ligações com o centro da cidade de Assomada e são separadas pela estrada principal.
Estas duas localidades vizinhas reflectem a realidade social de muitas comunidades rurais, sentindo na pele a saída dos jovens, a solidão dos idosos e uma série de problemas estruturais que afectam a sua qualidade de vida.
A Inforpress foi conhecer a realidade da Vassoura, uma localidade situada a cerca de dois quilómetros da estrada principal que liga Assomada a Cabeça Carreira. O acesso à Vassoura é marcado por uma subida íngreme e uma estrada em más condições.
Ao chegar ao cume, a vista deslumbrante revela várias outras localidades, mas a beleza do panorama contrasta com a dura realidade vivida por seus habitantes.
Com aproximadamente 30 casas, a maioria ocupadas por idosos e crianças, Vassoura enfrenta um êxodo jovem que deixa a comunidade num estado de abandono.
Idalina Gomes, uma residente de 74 anos, compartilha o seu sentimento de solidão e a luta diária pela sobrevivência.
“Aqui não há água, não há estrada, não há iluminação pública, não há mão-de-obra”, lamenta Idalina, que relata que a água canalizada não chega às torneiras, há anos, e a iluminação pública é precária, com lâmpadas que piscam intermitentemente.
Ilídio Santos, um idoso de mais de oitenta anos, complementa a visão de Idalina, ressaltando a falta de jovens dispostos a trabalhar na agricultura.
“A iluminação pública nesta zona é comparada aos grãos de dentes que ainda tenho na boca. Salteados e ainda assim não iluminam como deve ser”, brincou Ilídio Santos, mas a alegria esconde uma amarga realidade.
Contou que, durante o dia, os moradores se dedicam ao campo, mas, à noite, a solidão impera pois não há espaços de convívio.
A jovem Deonilda, de 29 anos e natural de Santa Cruz, também vive em Vassoura e comenta que, apesar da calma da localidade, as dificuldades são constantes. A comunidade depende de carros e autotanques para o abastecimento de água e cada tonelada custa 1.800$00, o que agrava ainda mais a situação de muitos moradores.
Em Fonteana, a situação não é diferente e para chegar a esta localidade, em vez de subir, agora é descer, num troço de estrada sem grandes condições, e em muitos casos os motoristas negam descer, conforme relataram os moradores.
José Moreira, de 63 anos e residente da localidade, relata que a electricidade nem é uma realidade nesta comunidade.
É que segundo o mesmo, não há ligação eléctrica, confessando que caso não fosse um morador com um posto à beira da sua casa para a ligação e iluminação domiciliária os restantes moradores nem sabiam qual era a cor e o sabor que tem este bem, dizendo com todas as letras que com a excepção deste morador, as outras mais de 100 famílias que vivem na zona usufruem de “luz furtada (ilegal)”.
Uma situação que diz lamentar muito e não depender somente da boa vontade dos moradores para ser resolvida, pois, realçou que a maioria dessas residências têm ligação, o que falta é a parte da empresa de electricidade em colocar postes e fios para prosseguir com a ligação legal.
A emigração também é um tema recorrente em Fonteana, onde muitos pais (avós) e netos (filhos) aguardam a oportunidade de deixar a localidade em busca de melhores condições de vida, pois os filhos já emigraram e sabem que é uma questão de tempo para os mais pequenos irem ao encontro dos progenitores.
Embora a comunidade se sustente pela agricultura e criação de gado, a falta de recursos e a ausência de jovens enfraquece essas tradições.
A solidão é sentida nas residências, mas nesta comunidade, conforme disse Iloisa Lopes, os moradores se reúnem à porta de algumas das residências para que o tempo passe depressa e da melhor forma possível.
Neste sentido, manifestou a necessidade de se ter um espaço formal de convívio e a falta de serviços básicos, como água e electricidade, são reclamações constantes.
Os moradores de Fonteana também reivindicam que o nome da comunidade seja reconhecido oficialmente, pois muitas vezes são considerados apenas parte de Cabeça Carreira.
Ambas as comunidades, Vassoura e Fonteana, sentem-se abandonadas pelas autoridades locais e pelo Governo, clamando por melhorias nas suas condições de vida e, apesar do cenário desolador, os moradores mantêm a esperança de que, um dia, dias melhores possam chegar, permitindo que as suas comunidades voltem a florescer.
A Semana com Inforpress
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