A coordenadora nacional dos Cuidados Paliativos apelou hoje ao comprometimento e engajamento de todos nos cuidados paliativos, e considerou que a implementação desse direito humano e de saúde é um "processo complexo" e "um desafio" a nível mundial.

Valéria Semedo falava em entrevista à Inforpress, a propósito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos que se assinala este sábado, 12 de Outubro, sob o lema "Dez anos desde a Resolução: Como estamos?".

A médica internista avançou que em Cabo Verde, de acordo com um estudo feito recentemente, 94 por cento (%) dos doentes seguidos na consulta tinham doença oncológica e 6% padeciam de outras doenças, como patologias neurológicas, cardiovasculares, infecciosas, entre outras.

Explicou, por outro lado, que a nível mundial, apenas 12% das pessoas conseguem ter acesso a esse serviço, enquanto 88% da população com necessidades paliativas morrem sem terem acesso a esses cuidados de saúde e que Cabo Verde não é indiferente.

A coordenadora destacou a importância dos cuidados paliativos prestados a nível da comunidade integrada nos cuidados primários, lembrando que as pessoas vivem na sua comunidade e o bem-estar social junto da família deve ser privilegiado.

"Há situações específicas que podem necessitar de internamento hospitalar, contudo sempre que for vontade do paciente e família conseguimos garantir os cuidados. Preferimos os cuidados paliativos nas comunidades e domiciliar", realçou Valéria Semedo.

A nível do apoio aos familiares dos pacientes, a responsável afirmou que isto faz parte da abordagem realizada pela equipa de cuidados paliativos, que mesmo após a morte tenta acompanhar alguns que apresentam maior risco para o luto patológico.

"A família necessita de apoio e é um elo importante entre a equipa de paliativos e o paciente", vincou, anotando que durante todo o processo de acompanhamento do doente, a família é envolvida, desde início e durante todo o processo de doença.

No que se refere à prestação de cuidados a nível de Cabo Verde, Valéria Semedo avançou que têm sido criadas equipas de cuidados paliativos nos hospitais e estruturas de saúde das ilhas de São Vicente e Santiago.

Quanto à formação, salientou que têm apostado na capacitação de profissionais de saúde em todo o território nacional, de forma a que acções paliativistas e intervenções básicas possam ser realizadas, independentemente da estrutura ter ou não uma equipa de cuidados paliativos.

"Nos últimos dois anos houve capacitação de mais de 150 profissionais de saúde em cuidados paliativos. Estamos também a trabalhar no sentido de termos formação avançada em cuidados paliativos em Cabo Verde já no próximo ano", enfatizou, acrescentando que o próximo passo será avançar para a implementação de equipas nas outras ilhas, uma estratégia para se chegar junto de mais doentes.

A coordenadora nacional dos Cuidados Paliativos afirmou ainda que tem se apostado num maior conhecimento e envolvimento da comunidade e outras entidades com responsabilidade social, por considerar que a parte social é um pilar "essencial" dos cuidados paliativos.

Neste momento, segundo informou, existem no serviço público 16 equipas de cuidados paliativos no Hospital Universitário Agostinho Neto (HUAN) e em diferentes centros de saúde afetos à Delegacia de Saúde da Praia e também na Região Sanitária Santiago Norte, com excepção de Tarrafal.

Em Barlavento, região que integra as ilhas de Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Sal e Boa Vista, também informou que existem equipas nos centros de saúde afectos à Delegacia de Saúde de São Vicente.

Para comemorar a efeméride, a Unidade de Cuidados Paliativos do HUAN, em articulação com o Plano Nacional de Cuidados Paliativos, vai organizar uma actividade alusiva à data, na próxima segunda-feira, 14. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objectiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, através da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espiritual.

O Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, comemorado a 12 de Outubro, é um dia anual de acção unificada para celebrar e apoiar os cuidados paliativos e hospices ao redor do mundo.

O ano de 2024 marca 10 anos desde que a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a única resolução independente sobre cuidados paliativos, pedindo que todos os países fortaleçam os cuidados paliativos como um componente do cuidado integral ao longo da vida.

A Semana com Inforpress