Wednesday, 05 February 2025

Dostoiévski, gênio

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Não está nada politicamente correto distinguir pessoas pela capacidade intelectual. O bom-tom em vigor insiste em nos igualar a todos. Há, inclusive, teorias com lastro científico a sustentar essa pretensa igualdade. Por exemplo: os mais limitados apenas deixaram de ter as mesmas oportunidades; em iguais condições, teríamos potencial equivalente; as inteligências são específicas, com desenvolvimento vocacionado; a inteligência é emocional, gerenciável, condutível a qualquer rumo.

 

Por Léo Rosa de Andrade*

 

Eu não sei a quantas anda a leitura de Dostoiévski. Nem mesmo me asseguro de que permanece bastante circulante a existência do romancista russo. Mas, se puder, ajudo a noticiar que ele existe, sugiro listá-lo nas prioridades da vida e afirmo, vendo-o como quem vê algo mais acima: o cara é genial. Estou ciente de que Dostoiévski não necessita de meu aval. Eu é que até posso ganhar alguns créditos ao exibir familiaridade com ele. Mas minha intenção é outra: é mostrar sua compreensão antecedente de algumas teorias que marcaram o mundo algum tempo depois dele.

 

Há estudos de variadas formas ou expressões de inteligência. Existem pesquisas e produções sérias. O problema está na exploração simplificada do tema: dizem-se bobagens conformes ao contentamento do freguês. Ora, de fato, oportunidades revelam inteligências; claro, dificilmente alguém produzirá inteligentemente em muitas áreas de conhecimento; é evidente, emoções podem ser compreendidas e relativamente controladas. Agora, obviamente, oportunidades não criam inteligências; dedicação a uma especialidade facilita; um desatinado emocional dissona das circunstâncias.

Essas considerações todas, todavia, enquadram o mediano, que somos os que temos inclusão social, educação dirigida, emoções em razoável estado de normalidade. Abaixo disso pulula mediocridade, mesmo com oportunidades, especialidades e sentimentos estáveis. Acima disso existem alguns gênios. Os mais “úteis” são os com oportunidade, especialidade, senso de vida social. O mais “romântico” é o gênio marginal que beire a sarjeta, jamais tenha estudado, seja louco.

Eu não sei a quantas anda a leitura de Dostoiévski. Nem mesmo me asseguro de que permanece bastante circulante a existência do romancista russo. Mas, se puder, ajudo a noticiar que ele existe, sugiro listá-lo nas prioridades da vida e afirmo, vendo-o como quem vê algo mais acima: o cara é genial. Estou ciente de que Dostoiévski não necessita de meu aval. Eu é que até posso ganhar alguns créditos ao exibir familiaridade com ele. Mas minha intenção é outra: é mostrar sua compreensão antecedente de algumas teorias que marcaram o mundo algum tempo depois dele.

Todos sabemos quem são Marx, Freud, Sartre. Seus ensinamentos nos propiciaram reler o humano em sua condição intrínseca, e a humanidade em seu estado social. Com esses três, ou concorda-se, ou deles se discorda. Contudo, acrescente-se ou se subtraia do que pensaram, os três são História. Muito do que expuseram sistematicamente foi, antes, dito literariamente por Dostoiévski. Aqui não cabe, nem pouco de tantos, nem tudo de um. Fico com alguma coisa do que, posteriormente pensado por Freud, foi anotado nas Recordações da Casa dos Mortos (Ed. Martin Claret).

“Talvez fosse essa constante insatisfação íntima para consigo mesmo a causa da intolerância no trato usual com os demais...”; “Restava-lhe um consolo: a ideia de mortificação. Bem declarou ele que não fora ódio pelo major que o levara a agir daquele modo, e sim apenas a vontade veemente de infligir a si mais o sofrimento. Quem sabe lá que processo psicológico se desdobrou em seu ânimo!”; “A realidade tende, como variação, a se dicotomizar de forma perpétua. Num interstício resta sempre um escaninho da vida, não a efetiva; mas a íntima, a impenetrável.”; “A possibilidade de mudar o destino se apresentava de chofre, pensamentos recalcados emergiam de novo.” Bem observado, tudo isso é psicanálise.

Admiro quem perceba e reconheça, para além da igualdade político-jurídica, a desigualdade intelectual de alguns humanos: essa condição superior dos sábios. Quero dizer, leio e pretendo que compreendo Dostoiévski, mas jamais serei assim genial. Então, presunçoso e humilde, dou-me bem comigo por me fazer na categoria de ler e compreender o gênio; mas dou-me igualmente bem comigo por estimar meu (autoatribuído) estado de possibilidade: um bom leitor, um esforçado escritor.

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*Doutor em Direito pela UFSC.Psicanalista e Jornalista.

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Lucas Rincon
6 days 19 hours

Há muito tempo que os técnicos recomendaram "vestir" esses troços perigosos com redes metálicas.

Dje d Soncent
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Julio Goto
18 days 15 hours

...Desrrespeito Nacional .Ausencia da TCV/RTC num mundial.Somos Proficionais Amadores ou o Deus Dará.

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