A situação em Gaza se tornou insustentável, uma tragédia humana que ultrapassa a razão e exige uma reação urgente e sincera da comunidade internacional. No entanto, diante do que se assemelha cada vez mais a um crime contra a humanidade, um genocídio, a maioria das grandes potências permanece em silêncio ou, pior, cúmplice. Os pequenos países, também não se manifestam muito para denunciar essa situação, repudiar esse escândalo, marcar e manifestar a sua solidariedade com o povo Palestino martírio.
Por Alexandre Fontes
O Secretario Geral das Nações Unidas, Senhor António Gutierres fez contudo, diversas intervenções, logo no início da campanha de agressão de massa, denunciando e condenando com força as ações do agressor, mas, depois de sofrer insultos e calúnias por parte das autoridades do país agressor, foi certamente com o tempo, silenciado pelos “verdadeiros mestres da organização”, como é aliás a prática nas instituições multilaterais.
A história recordará estes momentos sombrios do Genocídio dos Palestinos da mesma forma que, registou a Escravatura e a Shoah, e é nosso dever moral não permitir que este episódio se inscreve na indiferença ou na banalização do horror.
Para aqueles que ainda acreditavam no universalismo dos valores humanos, as máscaras caíram: existem de facto, duas categorias de pessoas no mundo. Por um lado, aqueles do primeiro mundo, para quem, contra à menor picada de mosquito, é montada todo um exército. Por outro lado, aqueles a quem pertencem os povos do Oriente Médio, da África e outros lugares, que são relegados à categoria de últimos na cadeia humana: Estes estão acostumados ao sofrimento, é seu dia a dia e até mesmo seu extermínio seria anotado como um fenómeno natural. Se você ainda não entendeu essa “realidade”, é porque você não vive neste mundo.
De fato, como pode alguém se emocionar com a morte de um cidadão do primeiro mundo em qualquer conflito ou catástrofe natural e, ao mesmo tempo, permanecer impassível diante do massacre de centenas de milhares de Palestinos? Como se pode condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, apoiando este último, fornecendo armas e enviando conselheiros, e ignorar, e portanto legitimar o massacre diário de civis Palestinos pelas forças de ocupação superarmadas?
A duplicidade dessa atitude ou como se gosta de dizer de forma mais familiar, a aplicação de "dois pesos, duas medidas" denota uma certa discriminação entre os povos e, é inaceitável e insuportável, hoje em pleno seculo 21, onde as democracias consideradas maturas promovem e luta contra as intolerâncias e contra todas as formas de descriminação, rejeição e xfobias. Será que estamos a ser uma vez mais, enganados?
Eu choro por essas crianças, essas mulheres e esses anciãos que nunca conheceram a paz e que hoje estão sendo bombardeados, e cujas vidas, já quebradas, são sepultadas sob o peso das bombas, enquanto aqueles que sobrevivam são expulsos das suas terras.
E também choro pela humanidade, cuja consciência coletiva parece ter adormecido diante dessa injustiça e abominação. Essa comunidade internacional que deveria representar a voz da justiça, está em silêncio ou balbucia sem agir e permanece apática, preferindo desviar a atenção do mundo sobre a guerra na Ucrânia, enquanto fecha os olhos sobre o massacre dos Palestinos, vítimas da colonização e agora de um genocídio silencioso. A mesma comunidade que, em sua história, deveria ter sido a vanguardista da justiça, se comporta hoje como cúmplice de um crime planetário. A marca mais vergonhosa e flagrante nessa situação são as sanções de toda natureza contra a Rússia, até mesmo contra às populações, os atletas, etc. enquanto no caso da Palestina, NADA, e pior, continuam a fornecer armas e munições ao agressor e oferecer e partilhar os palcos com os seus artistas e atletas até facultando a propaganda do agressor.
Mas, o que dizer igualmente dos nossos países, outra hora “não-alinhados”, que se esqueceram de 2 princípios-chave das relações entre as nações e seus povos: a solidariedade e a defesa da dignidade humana. Seus líderes, acostumados a erguer, ao nível regional, o sagrado princípio da soberania, estão mudos e ausentes no concerto das Nações para denunciar esse genocídio: Injunção ou medo de retaliação do mestre?
Esse duplo padrão mancha definitivamente a credibilidade da comunidade internacional. A guerra na Ucrânia, se é - com razão - condenada, não deve e não pode eclipsar a tragédia de Gaza, que constitui um massacre de um povo indefeso, humilhado, despojado de suas terras e martirizado. A diferença fundamental entre essas duas situações reside no fato de classificar a guerra na Ucrânia como uma luta de uma nação do 1º mundo para preservar a sua soberania, enquanto o sofrimento Palestino, povo do 2º mundo indefeso, confrontado com uma realidade colonial, é minimizado ou ignorado, tendo em conta a natureza do agressor, do 1º mundo e que mais, controla o sistema financeiro mundial.
Os povos oprimidos do mundo devem tomar consciência dessa dura realidade e se organizar, portanto, para defender os seus interesses, com dignidade e solidariedade. Não se trata de fazer a guerra, pois eles não têm, aliás, nem os meios, nem o poder, e nenhuma guerra, pela destruição humana provocada, não pode ser considerada legítima. A paz e o desenvolvimento serão os nossos objetivos, mas estes objetivos serão conquistados na dignidade e sempre no respeito dos direitos dos nossos povos, na defesa dos valores da humanidade e na solidariedade com os povos oprimidos. A nossa luta será feita com armas intelectual, moral e política, para fazer ouvir a nossa voz e defender com determinação a nossa soberania.
É também crucial denunciar todas as alianças que perpetuam a submissão e orientam as nossas posições no concerto das nações, mesmo nas situações mais injustas, como o terror e as destruições vividas em Gaza. Muitos países ainda estão submetidos ao domínio de potências estrangeiras, sacrificando a soberania, a dignidade e a justiça em favor de relações de dependência e outros interesses ocultos. Nosso único mestre deve ser o nosso povo, seus direitos, sua dignidade.
A violência e o terrorismo devem ser condenados sob todas as suas formas e independentemente de quem os pratique. A violência em Gaza, a destruição, os assassinatos, a negação da justiça, são formas de terrorismo de Estado que a comunidade internacional deve condenar sem ambiguidade. É vergonhoso que alguns, em sua hipocrisia, legitimassem ou minimizem esses massacres, atos de violência e guerra.
Estamos atravessando uma época sombria e pertencemos a uma geração que, com a nossa inercia, esta a permitir que esta página negra da história seja escrita. Sinto uma profunda vergonha como integrante dessa geração, a assistir impotente a esse drama.
A memória de Gaza, de seus mártires, de suas crianças assassinadas, deve nos impulsionar a agir coletivamente, a denunciar, a lutar pela justiça. Pois se desviar o olhar, se fechar os olhos, seremos cúmplices de um genocídio que a história lembrará como um dos maiores crimes contra a humanidade. Não devemos permitir que ninguém abafe a nossa revolta o nosso grito. Observando a situação atual sem reagir, qualquer que seja a forma, nos obrigara a viver com o pavor das imagens de humilhação, sofrimento, desespero, abominação e por fim, extinção do povo de Gaza.
Gaza grita, e devemos ouvir. A justiça, a dignidade e a paz não podem esperar. É hora de acordar e se levantar, fazer-se ouvir e dizer em voz alta e clara: Gaza, eu choro, Gaza, tenho vergonha, Gaza, eu grito.
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