Tuesday, 17 June 2025

Crescimento para quem?

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Especialistas defendem que o crescimento económico, por si só, não garante desenvolvimento. O desenvolvimento continua desigual, concentrado em setores e regiões específicas, sem beneficiar de forma direta os cabo-verdianos mais vulneráveis. É urgente repensar as prioridades de investimento público, redistribuir os ganhos de forma equitativa, fortalecer os serviços essenciais, promover a coesão territorial e criar empregos dignos, sobretudo para os jovens.
 
Por Albino Sequeira
 
 De outra forma, o alargamento do PIB perpetuará a ser um número bonito nos relatórios, mas vazio de significado para quem todos os dias luta para sobreviver. Em suma, enquanto os dados do INE revelam uma economia em expansão, a experiência vivida por grande parte dos cabo-verdianos mostra que ainda há um longo caminho a percorrer até que esse crescimento se traduza num verdadeiro desenvolvimento humano e social. A pergunta que persiste é: Crescimento para quem?
 
 
Apesar dos indicadores positivos, o crescimento de 7% do PIB em 2024 contrasta com o desemprego, a pobreza, a fragilidade dos serviços públicos e as desigualdades entre as ilhas. Cabo Verde registou um crescimento económico de 7% em 2024, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no passado dia 4 de abril. O número impressiona e pode, à primeira vista, indicar um País em clara ascensão, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia e de desafios económicos globais, pode ser interpretado como sinal de progresso. No entanto, a realidade enfrentada por grande parte da população não condiz com o otimismo dos indicadores macroeconómicos. A contradição entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e as condições de vida dos cabo-verdianos tem sido um ponto de tensão no debate público. Embora a economia nacional continue apresentar sinais de recuperação e dinamismo, sobretudo após os impactos da pandemia e das crises externas, os benefícios desse crescimento não chegam às camadas mais vulneráveis da sociedade. Essa contradição levanta uma questão central: por que razão este crescimento não se reflete em melhorias visíveis no bem-estar da população?
 
DESEMPREGO E SUBEMPREGO PERSISTEM
 
Um dos principais paradoxos reside no mercado de trabalho. Apesar do crescimento económico, não se verifica um aumento significativo de postos de trabalho. Ainda que, haja um acréscimo do Produto Interno Bruto, os dados do mercado de trabalho revelam um País com sérias dificuldades de inclusão socio-económica. Em 2023, a taxa de desemprego fixou-se nos 10,3%, com uma colisão ainda mais acentuada entre as mulheres, cuja taxa atingiu os 11,4%. Os jovens são os mais afetados: entre os 15 e os 24 anos, a taxa de desemprego sobe para 23,9%, e no grupo etário dos 25 aos 34 anos, chega próximo dos 13%, um número que exige verificação ou explicação adicional por parte das autoridades, dada a sua magnitude. Além disso, o subemprego afeta 22 422 indivíduos, correspondendo a uma taxa de 12%. Trata-se de trabalhadores com emprego precário, insuficiente ou mal remunerado para garantir o seu sustento. A situação agrava-se quando se observa o número de pessoas fora da força de trabalho: a população inativa é de 155.201 cabo-verdianos, dos quais 35,3% são jovens entre os 15 e os 24 anos, um dado preocupante que reflete o desfasamento entre o sistema educativo, o mercado de trabalho e as oportunidades reais para os mais novos. Face à escassez de oportunidades e à de perspetivas, muitos cabo-verdianos, especialmente jovens, têm optado pela emigração como forma de procurar melhores condições de vida. Esta saída, embora compreensível, representa uma perda significativa de capital humano para o País e levanta preocupações sobre a sustentabilidade do seu desenvolvimento a médio e longo prazo. Em paralelo, a taxa de pobreza em Cabo Verde mantém-se nos 17%, revelando uma frágil distribuição de rendimentos, enquanto a inflação, registada em fevereiro de 2025, situava-se em 1,5%. Embora relativamente moderada, tem impacto real no poder de compra dos que menos têm, agravando a desigualdade social, dificultando o acesso a bens e serviços essenciais.
 
SERVIÇOS PÚBLICOS FRAGILIZADOS
 
Nos pilares fundamentais do desenvolvimento, saúde, educação, segurança e habitação, os investimentos continuam aquém das necessidades da população. Hospitais enfrentam falta de materiais e profissionais, escolas funcionam com infraestruturas precárias e os bairros periféricos continuam a crescer sem planeamento urbano e sem resposta habitacional eficaz. Portanto, esse crescimento precisa impactar a vida das pessoas, por meio de políticas públicas.  
 
TRANSPORTES: O ELO FRÁGIL DO DESENVOLVIMENTO
 
Entre os setores mais afetados pela falta de investimentos estratégicos está o dos transportes. Tanto nas ligações marítimas como no transporte aéreo, os problemas persistem: horários irregulares, tarifas elevadas, sem previsibilidade e deficiente manutenção da frota. A mobilidade, essencial para o acesso a emprego, educação e saúde, permanece como um dos grandes desafios à coesão territorial e ao desenvolvimento sustentável. A instabilidade nas ligações marítimas e aéreas prejudica o escoamento de produtos agrícolas, compromete o turismo interno e limita o acesso a cuidados de saúde especializados. Os transportes aéreos seguem a perder qualidade e a segurança, cada hora, uma companhia, com aviões velhos. Este cenário contradiz a narrativa de um País em expansão económico. Um crescimento que, sem medidas de inclusão social e investimentos estruturais, arrisca beneficiar apenas uma minoria.
 
Diante esta situação, é legítimo perguntar: podem os habitantes de ilhas como São Nicolau, Maio ou Brava falar de crescimento económico? Estas comunidades, frequentemente esquecidas nas grandes decisões de planeamento e investimento, são das mais penalizadas pela má qualidade das ligações de transporte. Para muitos dos seus residentes, os efeitos do tão falado crescimento económico são inexistentes, ou no mínimo, impercetíveis. O sentimento de isolamento, aliado à dificuldade de acesso a serviços e oportunidades, alimenta uma perceção generalizada de exclusão e abandono, o crescimento não beneficia o País todo.  
UM CRESCIMENTO QUE NÃO CHEGA AOS PRATOS
 
Especialistas defendem que o crescimento económico, por si só, não garante desenvolvimento. O desenvolvimento continua desigual, concentrado em setores e regiões específicas, sem beneficiar de forma direta os cabo-verdianos mais vulneráveis. É urgente repensar as prioridades de investimento público, redistribuir os ganhos de forma equitativa, fortalecer os serviços essenciais, promover a coesão territorial e criar empregos dignos, sobretudo para os jovens. De outra forma, o alargamento do PIB perpetuará a ser um número bonito nos relatórios, mas vazio de significado para quem todos os dias luta para sobreviver. Em suma, enquanto os dados do INE revelam uma economia em expansão, a experiência vivida por grande parte dos cabo-verdianos mostra que ainda há um longo caminho a percorrer até que esse crescimento se traduza num verdadeiro desenvolvimento humano e social. A pergunta que persiste é: Crescimento para quem?
 

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Terra
1 day 9 hours

Ninguem perguntava a um homem se ele tinha mérito de ser na uma linha partidário/ Hahaha tchakota boca calado tem resposta ...

Maika
2 days 4 hours

Não fosse o apoio do imperialismo americano desta vez seria varrido da face da terra os genocidas e criminosos sanguinários ...

Terra
4 days 19 hours

Nhos vota na MPD tamebe Naty fla ma ainda nos codja nada?

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