A ajuda externa recebida por Cabo Verde caiu 26,6% no primeiro semestre de 2019, em termos homólogos, para 2.239 milhões de escudos (20,2 milhões de euros), essencialmente através de donativos em moeda estrangeira.
Segundo dados compilados pela Lusa citados pela Inforpres, com base no relatório estatístico de Setembro do Banco de Cabo Verde, este registo compara com os 3.053 milhões de escudos (27,6 milhões de euros) que o país recebeu, em ajuda externa, nos primeiros seis meses de 2018.
De acordo com o mesmo relatório, desde 2016 que o país não recebe ajuda externa na forma de donativos em alimentos. Contudo, Cabo Verde vive há dois anos uma profunda seca.
No primeiro semestre deste ano, mais de metade da ajuda externa recebida no primeiro semestre foi proveniente de governos “parceiros”, totalizando 1.258 milhões de escudos (11,4 milhões de euros).
As doações de organizações supranacionais ascenderam no mesmo período a 926,9 milhões de escudos (8,4 milhões de euros), um aumento de 13,2% face ao primeiro semestre de 2018, enquanto os donativos das organizações não-governamentais (ONG) representaram 36,6 milhões de escudos (331,3 mil euros), com transferências apenas no primeiro trimestre.
O essencial dos donativos atribuídos nos primeiros seis meses do ano diz respeito a divisas e ajuda orçamental, totalizando 1.945 milhões de escudos (17,6 milhões de euros), enquanto a ajuda em bens e outros equipamentos continua a ser reduzida, rondando os 293,5 milhões de escudos (2,6 milhões de euros).
A ajuda externa a Cabo Verde atingiu em 2018 os 5.644 milhões de escudos (51 milhões de euros), uma descida de 21,8% face a 2017.
O relatório do Banco de Cabo Verde não refere quais são os países doadores.
Um estudo apresentado no final de Julho, na cidade da Praia, concluiu que Cabo Verde perdeu subvenções internacionais e tem vindo a aumentar a sua dívida pública após graduar-se país de rendimento médio, em 2008.
O estudo foi apresentado pelo especialista português para o desenvolvimento Jorge Moreira da Silva, durante uma reunião dos Pontos Focais dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS).
O investigador, antigo ministro do Ambiente de Portugal e actual director-geral de Desenvolvimento e Cooperação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) começou por recordar que Cabo Verde graduou-se a país de rendimento médio numa altura em que decorria uma crise financeira global, o que afectou muitos países parceiros do arquipélago africano.
Com a graduação, segundo Jorge Moreira da Silva, aconteceu uma alteração muito significativa da relação dos doadores, em que não houve mudança do volume financeiro da ajuda ao país, mas transformou a natureza dessa ajuda, com menos subsídios, mais empréstimos e mais investimento privado.
Além disso, o estudo concluiu que com a transição de País Menos Avançado (PMA) para País de Desenvolvimento Médio (PDM) houve um sobre-endividamento, já que Cabo Verde perdeu acesso a algumas subvenções internacionais, passando a estar dependente de empréstimos.
Outra consequência da graduação foi uma alteração da composição de parcerias, com alguns “doadores tradicionais a afastarem-se gradualmente” do apoio a Cabo Verde, e novos doadores, como a China, com maior presença, refere a fonte referida.
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