O vice-presidente do PAIGC, Califa Seide, admitiu à Lusa que o partido falhou a Amílcar Cabral por não ter conseguido concretizar o sonho do fundador, mas assegurou estar a recuperar a orientação do líder histórico da Guiné-Bissau.
“Foi o PAIGC que conduziu todo o processo de independência como partido único, libertador, mas teve muitas falhas, teve muitos sucessos, sobretudo em termos de formação de quadros, organização do Estado, mas em termo de políticas públicas falhou muito”, declarou o vice-presidente.Califa Seide reconheceu que isso “contribuiu para que os ideais de Amílcar Cabral não fossem aplicados convenientemente”.
Na entrevista a propósito do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, Califa Seide considerou que se os seus ideais tivessem vingado, a Guiné-Bissau seria diferente, e reconheceu que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) está entre os que falharam.
“Falhou muito”, afirmou o vice-presidente que foi aluno da escola-piloto de Cabral e que ouviu na primeira pessoa o líder da luta pela libertação da Guiné-Bissau do colonizador português.
Cabral tinha um plano para a nova nação que não teve tempo de concretizar, nem de assistir à independência da Guiné-Bissau, declarada alguns meses depois de morrer assassinado, na noite de 20 de janeiro de 1973.
“Foi o PAIGC que conduziu todo o processo de independência como partido único, libertador, mas teve muitas falhas, teve muitos sucessos, sobretudo em termos de formação de quadros, organização do Estado, mas em termo de políticas públicas falhou muito”, declarou o vice-presidente.
Califa Seide reconheceu que isso “contribuiu para que os ideais de Amílcar Cabral não fossem aplicados convenientemente”.
“Houve muito, não diria desinteresse, mas algumas pessoas que estavam à frente do partido não tinham essa perceção de como havia todo um trabalho feito por Amílcar Cabral com base no qual podiam perfeitamente trabalhar e sem grandes dificuldades”, considerou.
A Guiné de Amílcar é, para Califa Seide, “mais do que evidente que não se concretizou”, a começar “pelo seu maior sonho que era da unidade entre a Guiné e Cabo Verde”.
Como recordou, ao fundar o PAIGC ele definiu três grandes objetivos que eram a libertação da Guiné e Cabo Verde do jugo colonial, a democratização que permitisse a participação das populações na definição e orientação do seu próprio destino e a criação de riqueza e bem-estar para que pudessem sair da situação de pobreza em que se encontravam.
“Até hoje não se alcançou”, constatou, referindo que “basta olhar para a situação do país”, onde “60% da população vive numa pobreza que muita gente não calcula e 30 a 40% vive numa extrema pobreza mesmo”.
“Daí que ninguém se pode orgulhar disso”, afirmou.
Para o dirigente do PAIGC, nos últimos anos, “sobretudo com a nova liderança de Domingos Simões Pereira”, o partido está “a conseguir aos poucos sair da situação de desvio do ponto de vista ideológico, dos princípios de orientação, para tornar ao eixo”.
“Agora, de facto, podemos dizer que o partido está aos poucos a retomar a sua linha ideológica, aquele projeto político que Amílcar Cabral estava a desenhar”, reiterou.
Califa Seide concretizou que o plano estratégico operacional Terra Ranka foi elaborado “com base nesse programa maior “para fazer voltar aquela que foi a base da libertação nacional, mas também para uma fase pós-independência que se deveria fazer”.
O referido plano é o programa da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI)- Terra Ranka que ganhou as eleições legislativas de 2023 com maioria absoluta e que foi afastada do Governo, quatro meses depois de tomar posse, e substituída por um executivo de iniciativa presidencial, com a dissolução do parlamento pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.
Por não terem decorrido os 12 meses desde as eleições previstos na Constituição, o PAIGC tem reclamado que a medida é inconstitucional, mas o chefe de Estado marcou novas legislativas para novembro deste ano.
O vice-presidente do partido está convencido de que, se deixarem o PAIGC concretizar este programa, a Guiné-Bissau irá mudar.
“O povo aprova o programa nas eleições, mas há pessoas que nos dizem não, vocês não podem governar. É isso que é antidemocrático, o eleitorado votou em nós, mas não nos deixam governar”, enfatizou.
A Semana com Lusa
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