O Presidente da República de Cabo Verde considera que a melhor forma de se aprender o português é estudar paralelamente a língua cabo-verdiana, defendendo consensos para que esta seja oficializada no arquipélago africano.
A plena oficialização da língua cabo-verdiana exige “uma alteração da Constituição e, para isso, é preciso dois terços do Parlamento e isso não tem sido possível”.
“A Constituição da República [de Cabo Verde] fala de duas línguas oficiais. A oficial é a língua portuguesa e devem ser criadas condições para a plena oficialização da língua cabo-verdiana”, disse José Maria Neves, em declarações à agência Lusa, durante a sua mais recente visita a Portugal.
José Maria Neves, que participou nas cerimónias do 50.º aniversário do 25 de Abril, em Lisboa, acredita que a melhor forma de se aprender a língua portuguesa – cujo dia mundial se assinala no domingo -, é “desenvolver a língua cabo-verdiana”.
“O português é o nosso património, temos de fazer tudo para aprender da melhor forma o português”, afirmou.
E defendeu um sistema bilingue no ensino cabo-verdiano: “No dia-a-dia, falamos a língua cabo-verdiana, é a nossa língua materna; toda a campanha eleitoral é feita na língua materna; no Parlamento é possível fazer discursos nas duas línguas e já há experiências a mostrar claramente que as crianças aprendem muito melhor o português se também, paralelamente, estudarem a língua cabo-verdiana”.
“O sistema de ensino tem de ser um sistema bilingue e as pessoas aprenderem simultaneamente as duas línguas, aprenderem a língua cabo-verdiana como a língua materna e a língua portuguesa como a segunda língua e saírem do sistema de ensino a falarem fluentemente a língua cabo-verdiana e a língua portuguesa e, se possível, o inglês e o francês”, disse.
José Maria Neves sublinhou: “Esta pluralidade enriquece o país, não prejudica o país; é um sinal de enriquecimento o facto de nós termos essas duas línguas - a língua cabo-verdiana e a portuguesa”.
“As duas [línguas] são património de Cabo Verde e a língua portuguesa, pelo seu universo de falantes, é uma grande riqueza para Cabo Verde e nós temos de acarinhar convenientemente a língua portuguesa”.
Segundo ainda a Lusa, o chefe de Estado recordou experiências-piloto que mostraram a eficácia dessa aprendizagem bilingue.
“Enquanto primeiro-ministro [2001 – 2016], eu mesmo visitei várias escolas que estavam em experiência e pude fazer a comparação. As crianças com ensino bilingue, no final do ensino básico, falavam muito melhor o português do que aquelas que estavam a ser alfabetizadas apenas na língua portuguesa”, referiu.
Questionado sobre o que falta para a oficialização da língua cabo-verdiana, José Maria Neves apontou “os consensos entre os principais atores políticos”.
“Nem toda a gente concorda, há resistência, há oposição. Há gente que acha que não se deve ensinar a língua cabo-verdiana, há gente que acha que a língua cabo-verdiana prejudica o ensino da língua portuguesa, há gente que acha que não estamos a falar bem o português porque insistimos em falar a língua cabo-verdiana”, disse.
E prosseguiu: “Os especialistas, aqueles que entendem a matéria – portugueses e cabo-verdianos – acham que devemos avançar para um sistema bilingue, falar as duas línguas”.
José Maria Neves disse que basta chegar a Cabo Verde e visitar uma escola dos primeiros anos.
“Quando a gente chega e começa a falar o português, há uma barreira. As crianças estão em casa, falam com os pais, os vizinhos, com os amigos, brincam usando a língua cabo-verdiana e chegam à escola e têm de aprender a língua portuguesa. Então, há uma barreira (…). Se passarmos para a língua cabo-verdiana há uma outra desenvoltura, uma outra alegria das crianças”, disse conforme a fonte deste jornal.
Segundo o Presidente, não se pode avançar sem entendimentos, sem “os consensos necessários para que isso aconteça”.
A plena oficialização da língua cabo-verdiana exige “uma alteração da Constituição e, para isso, é preciso dois terços do Parlamento e isso não tem sido possível”.
Em 2019, a 40.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) consagrou 05 de maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Desde então, a efeméride é celebrada e partilhada pelos mais de 260 milhões de lusofalantes, nos cinco continentes, reconhecendo a língua portuguesa como uma das principais línguas de comunicação, a nível global, conclui a fonte que vimos citando.
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