O autor de uma petição a pedir a remoção de “monumentos pró-esclavagistas e coloniais” em Cabo Verde considerou que o cinquentenário do 25 de Abril é “momento ideal” para o país africano e Portugal clarificarem a história comum.
“A história de Cabo Verde não deve ser confundida com a história de Portugal e Cabo Verde não deve limitar-se apenas a reproduzir a versão de Portugal”, disse em declarações à Lusa Gilson Lopes, natural da ilha de Santiago, mas residente no Luxemburgo.
Em agosto de 2021, Gilson Varela Lopes entregou a petição ao parlamento, alegando o “período histórico de contestação racial” que se vivia na altura, mas o documento foi devolvido ao autor para correção de alguns aspetos, antes de ser discutido pelos deputados.
Este cabo-verdiano avançou que os dados e documentos solicitados foram enviados em fevereiro de 2023, mas até hoje não recebeu “nenhum despacho” por parte do parlamento, pelo que vai “solicitar que se cumpram os requisitos legais relativos à lei das petições”.
Cabo Verde proclamou a independência de Portugal em 05 de julho de 1975, mais de 500 anos após a descoberta daquelas ilhas, então desabitadas, por navegadores portugueses.
E no ano em que ser comemoram os 50 anos do 25 de Abril em Portugal e no próximo os 50 da independência de Cabo Verde, o autor disse que é “momento ideal” para que os dois países clarifiquem e divulguem “com rigor” a história que têm em comum, “sem que isso prejudique a relação entre os dois povos”.
Gilson Lopes considerou que “não existe interesse” das autoridades competentes em debater este assunto, devido à “dependência económica de Cabo Verde em relação a Portugal”.
“As opiniões em Cabo Verde são demasiado politizadas, e quaisquer ações de iniciativa popular como uma petição gera desconfiança”, lamentou.
A petição visa a remoção da estátua de Diogo Gomes, no Plateau, centro da capital cabo-verdiana, Praia, nas imediações do Palácio da Presidência, dos bustos ou estátuas de “exploradores coloniais” como os de Alexandre Albuquerque (também no Plateau), de Serpa Pinto, na ilha do Fogo, ou de Diogo Afonso e Sá da Bandeira, em São Vicente (Mindelo), entre outros.
Intitulada “Remoção de monumentos pró-esclavagistas e coloniais em Cabo Verde”, a petição foi lançada pelo emigrante cabo-verdiano na sequência de comentários considerados racistas e xenófobos proferidos numa televisão portuguesa.
O documento foi lançado apenas no formato digital, mas, segundo o autor, serviu para gerar um debate na sociedade cabo-verdiana e foi reforçado nos últimos anos “com mais dados”.
“Será que a opinião de 2.000 subscritores irá ser simplesmente ignorada e deixada na gaveta para esquecimento”, questionou.
Instado a comentar se a remoção não seria apagar a memória coletiva, o autor disse que é um “argumento vago”, notando que a história e a memória coletiva já estão documentadas e que esses monumentos devem ficar em locais próprios.
E aponta como solução a sua mudança para o Arquivo Histórico Nacional, na Praia, mas também a criação de uma comissão de historiadores para clarificar a história dos descobrimentos e "corrigir a história no tempo, local e espaço".
A Semana com Inforpress
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