O Centro do Atlântico, iniciativa do Estado português que congrega 23 países, defende a criação, em Cabo Verde, com apoio de parceiros do arquipélago, de um centro de treino em técnicas de abordagem, busca e apreensão em navios.
O objetivo é “reforçar a capacidade de atuação e prevenção” das autoridades dos diferentes países virados para o Atlântico, em águas por onde passam tráficos ilícitos, referiu à Lusa o contra-almirante da Marinha portuguesa, Nuno de Noronha Bragança, coordenador do Centro do Atlântico, durante uma visita à Praia.
A deslocação à capital cabo-verdiana visa estreitar o diálogo político para execução de projetos, entre os quais o plano para instalação do centro de treinos.
Ainda na última semana, Cabo Verde deportou quatro espanhóis detidos na ilha de Santiago, depois de terem fugido de uma embarcação intercetada no Atlântico com 330 milhões de euros de cocaína a bordo.
O arquipélago lusófono é um dos países fundadores do Centro do Atlântico, em 2021, e tem uma “localização estratégica” para acolher o centro de treinos que esta semana tem sido apresentado a diferentes ministérios e parceiros como o Escritório das Nações Unidas para a Droga e Crime Organizado (UNODC) ou União Europeia.
O Centro do Atlântico apresenta-se como catalisador, fazendo as pontes entre as instituições, esperando que o projeto e respetivas atividades de formação e treino se concretizem.
O resultado esperado é um aumento de segurança e vigilância no Atlântico, “um espaço vasto de soberania, de responsabilidade de jurisdição de cada país”, mas que pode beneficiar de “uma lógica de colaboração” e “crescente multilateralismo, para combater” as atividades ilícitas, justificou Noronha Bragança.
O centro poderá fazer de Cabo Verde um ‘hub’, concentrando as atividades de treino.
Questionado sobre o facto de poderem faltar recursos aos países para investir na iniciativa, o contra-almirante referiu que o centro de treinos deverá contar com parcerias que lhe permitam “ser sustentável” e dar “formação contínua”.
O objetivo é que o projeto possa avançar ainda este ano para um plano de execução.
O centro requer “algum nível de investimento”, com as contas ainda a serem finalizadas, “mas a sua sustentabilidade” deverá ser “assegurada por todos”, uma vez que está reconhecida a sua utilidade, justificou.
O Centro do Atlântico tem dinamizado ainda a formação de operadores responsáveis pelo Centro Multinacional de Coordenação Marítima da Zona G, inaugurado em janeiro, na Praia, permitindo-lhes trabalhar “noutros centros na região”.
O Centro do Atlântico é um grupo de trabalho e reflexão criado em 2018 por iniciativa portuguesa, com envolvimento dos ministérios da Defesa e Negócios Estrangeiros e concretizou-se formalmente com a entrada de 16 países em 2021.
Atualmente congrega 23 países parceiros, sete Europeus, 12 da costa oeste africana, três países da América do Sul e um país da América do Norte, que têm em comum o interesse em reforçar todos os aspetos da segurança, no sentido mais vasto, no espaço Atlântico.
Noronha Bragança dirigiu o grupo-tarefa permanente para a África Ocidental em 2018 e 2019, bem como missões Mar Aberto na região do Golfo da Guiné, num currículo que inclui funções de assessoria militar junto do Estado português e Bruxelas.
A Semana com Lusa
28 de Março de 2024
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