sexta-feira, 14 março 2025

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“A Invenção do Amor" regressa às livrarias nos cem anos do poeta cabo-verdiano Daniel Filipe

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O livro “A Invenção do Amor e outros poemas”, de Daniel Filipe, é reeditado na próxima quarta-feira, no âmbito do centenário do nascimento do poeta cabo-verdiano, uma publicação que inclui o prefácio da edição de 1969, pelo editor livreiro Francisco Espadinha.

Em comunicado, a Editorial Presença, que chancela a edição, realça que "A Invenção do Amor", de 1961, é "uma obra-prima da poesia de resistência em pleno Estado Novo" e "o poema mais emblemático de Daniel Filipe”.

O longo poema, uma distopia com referências óbvias à ditadura, descreve a perseguição movida contra duas pessoas que, pelo simples facto de se amarem, subvertem a ordem e a rotina, e põem em causa "a cidade, o país, a civilização do Ocidente".

Para o compositor Luís Cília, que conheceu Daniel Filipe e o musicou, o regresso de “A Invenção do Amor” às livrarias "é maravilhoso", por se tratar de uma obra-chave de "um grande poeta que vale a pena ser descoberto pelas novas gerações e não só a dos anos 1960”.

A obra, há muito esgotada, teve a mais recente reedição em 2002, há 23 anos, segundo a Bibliografia Nacional Portuguesa, da Biblioteca Nacional, com base no Depósito Legal do mercado livreiro.

Cília referiu-se ao poema “A Invenção do Amor” como um “livro combativo”. O compositor conheceu Daniel Filipe através do escritor Alfredo Margarido, que frequentava a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, um núcleo de resistência à ditadura do Estado Novo.

Daniel Filipe era “um homem maravilhoso com um sorriso absolutamente luminoso, um bom conversador e muito informado”, disse Luís Cília à agência Lusa, lembrando que foi através do poeta que conheceu o trabalho de Leo Ferré e Georges Brassens, o que mudou o rumo ao seu percurso. "Aprendi muito com ele”, afirmou.

Originalmente publicado em 1961 pela antiga chancela Sagitário, o poema "A Invenção do Amor" entrou em 1969 para o catálogo da Editorial Presença, onde teve sucessivas reedições, depois de inaugurar a coleção Forma, acompanhado de "Canto e Lamentação na Cidade Ocupada" e "Balada para a Trégua Possível".

Em 1973, por iniciativa do editor fonográfico Arnaldo Trindade (1934-2024), "A Invenção do Amor" foi publicada em disco na etiqueta Orfeu - a mesma de José Afonso, à data -, num álbum dedicado à obra do poeta, que recuperava a gravação da obra pela sua própria voz, a par de outros poemas ditos pelo ator Mário Viegas.

"A Invenção do Amor" abre assim: “Em todas as esquinas da cidade/ nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas/ janelas dos autocarros/ mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de/ aparelhos de rádio e detergentes/ na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém/ no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa/ esperança de fuga/ um cartaz denuncia o nosso amor”.

No prefácio, Francisco Espadinha (1934-2020), fundador da Editorial Presença, que arriscou a publicação do livro por três vezes durante a ditadura, fez notar que Daniel Filipe, neste poema, amplia “em substância a dimensão do amor à esfera de toda a solidariedade humana”.

“É pela sua negação, pela sua impropriedade verbal, pelo contraste com o mundo em que se intromete, que a nova linguagem mina a certeza da outra, forçando até ao seu último limite o categórico da linguagem rigidamente submetida ao quotidiano até que esta se comece a desconjuntar, a tornar-se por sua vez desconexa e a perder terreno neste embate entre o real e o possível”, escreveu Francisco Espadinha.

Daniel Damásio Ascensão Filipe nasceu na Ilha da Boavista, em Cabo Verde, em 11 de dezembro de 1925. Veio para Portugal, ainda criança, com a família, que se fixou em Lisboa, cidade onde concluiu o curso dos liceus. Viveu numa casa na avenida de Roma, espaço de muitas tertúlias e projetos. Perseguido pela PIDE, polícia política da ditadura, foi preso e torturado. Morreu em 06 de abril de 1964, aos 39 anos.

Daniel Filipe foi codiretor das Notícias do Bloqueio, uma série de nove cadernos de poesia editados entre 1957 e 1961, de raiz antifascista, que tomaram para nome o título de um poema de Egito Gonçalves. Colaborou com publicações como a Seara Nova e a Távola Redonda, revista para a qual dirigiu a coleção de poesia, o jornal Diário Ilustrado e a luso-brasileira Atlântico. Trabalhou na extinta Agência Geral do Ultramar, na área de informação, foi realizador da ex-Emissora Nacional, responsável pelo programa literário Voz do Império.

O poeta estreou-se nas letras em 1946 com "Missiva", seguindo-se "Marinheiro em Terra" (1949), "O Viageiro Solitário" (1951), "Recado para a Amiga Distante" (1956), "A Invenção do Amor" (1961), "Pátria, Lugar de Exílio" (1963). Arriscou o romance com "O Manuscrito na Garrafa" (1960), recebeu o Prémio Camilo Pessanha por "A Ilha e a Solidão" (1957), escrito sob o pseudónimo de Raymundo Soares.

A poesia de Daniel Filipe foi cantada por Luís Cília, Manuel Freire, Fausto Bordalo Dias. O poema "A Invenção do Amor" foi adaptado ao cinema por António Campos, em 1965.

A Semana com Lusa

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Mindoca
15 hours 31 minutes

O que esse homem quer é fazer prova de vida. É que ele parece que está vivo, mas não está. Nem agora nem quando ele foi ...

Terra
21 hours 12 minutes

Deve ser fiscalizado antes de sair de Cabo Verde tb o dinheiro de contracto deve ser investido nos coitados de Cabo Verde nao ...

liberdade
1 day 21 hours

Mesmo complicado se ha verdade adiver essas brucracia pela mor de Deus?

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