quinta-feira, 13 março 2025

D DESPORTO

REPORTAGEM: Emoções, tempo e dinheiro, a equação da cabo-verdiana Carla Mendes para salvar o filho

Estrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativa
 

Carla Mendes, professora cabo-verdiana, trava uma batalha árdua para preservar a saúde mental do filho, enfrentando múltiplos desafios: lidar com o impacto emocional, superar as limitações financeiras e reorganizar a rotina familiar para garantir o tratamento necessário.

"O maior desafio para uma mãe é aceitar que um filho que nasceu saudável precisa de ajuda. Para chegar até aqui, tive de despir a pele de mãe e vestir outra, para poder ajudá-lo", contou Carla Mendes, tentando conter as lágrimas enquanto falava à Lusa.

Tudo começou com pequenas mudanças: Lucas, que era um menino alegre e curioso, aos oito anos começou, inesperadamente, a ter dificuldades em juntar sílabas que antes dominava com facilidade.

Mãe solteira, Carla procurou ajuda no Hospital Universitário Agostinho Neto, o maior do país, mas continua à espera de uma consulta inicialmente marcada desde dezembro de 2023.

Diante da ausência de resposta no sistema público, Carla procurou especialistas em clínicas privadas, mas rapidamente viu-se travada pelos custos elevados.

"Deixei de comprar roupa. Parei de sair com os meus filhos, porque tínhamos o hábito de ir jantar fora uma vez por mês, mas cortei isso para poder pagar as consultas", lamentou.

Determinada, Carla colocou a saúde do filho como prioridade e encontrou apoio na Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades Especiais (Colmeia).

Na Colmeia, conseguiu acesso a um tratamento essencial, contribuindo apenas com 500 escudos mensais (4,53 euros).

Embora considere o valor "simbólico", reconhece o impacto financeiro no orçamento familiar.

Além disso, percebeu que a sua própria saúde mental estava a deteriorar-se.

"Na primeira consulta, perceberam que eu também precisava de ajuda. Por mais que dissesse que estava forte, a verdade é que levava a vida no automático", confessou Carla.

Com dois meses de tratamento na Colmeia, já observa "uma grande evolução" no filho.

Em casa, juntamente com a filha de 14 anos, adaptaram as rotinas para apoiar Lucas, utilizando jogos e atividades que estimulam o foco e a interação.

"Ele sabe que está a fazer terapia para se tornar uma pessoa melhor, mas tratamo-lo como às irmãs. Não queremos que ele se sinta diferente ou inferior", afirmou.

Um dos momentos mais marcantes para Carla foi quando a filha lhe revelou que deseja ser neuropsicóloga para ajudar crianças com problemas de saúde mental.

"Ela disse-me: Mãe, as crianças em Cabo Verde são esquecidas. Tens procurado tanto uma consulta para o Lucas. Para os ricos existem, por quê? Porque têm dinheiro para ir à clínica. E os pobres?", contou.

A professora apela ao Governo para que facilite o acesso aos cuidados de saúde, especialmente num ano em que a saúde mental foi declarada prioridade nacional.

"Há muita propaganda sobre o tema, mas a realidade é outra. Sem apoio financeiro e técnico, as instituições que oferecem ajuda gratuita podem acabar por fechar", alertou.

Isabel Moniz, presidente da Colmeia, também defende que as ações governamentais têm sido insuficientes.

Apesar de trabalharem com recursos limitados, a associação tem atendido um elevado número de pessoas, oferecendo suporte psicológico e terapêutico a crianças e jovens com transtornos mentais e neurológicos.

"Nós lidamos com todo o tipo de transtorno. Temos casos de paralisia cerebral e autismo", explicou.

Jacob Vicente, especialista responsável pelo único Centro de Atendimento Psicológico na Praia, destacou a grave carência de profissionais e recursos na área da saúde mental em Cabo Verde.

Apenas três psiquiatras atendem todo o país, com algumas cidades dependendo de médicos cubanos, o que é insuficiente.

"O ano da saúde mental foi anunciado, mas até agora nada de concreto foi feito", lamentou Vicente, sublinhando que o Governo ainda não implementou políticas públicas eficazes para combater a situação.

Além disso, as consultas de psicologia são extremamente limitadas, com tempos de espera que podem durar meses.

Para quem não tem possibilidades financeiras de recorrer a serviços privados, as dificuldades são ainda maiores.

Vicente revelou que, este ano, o centro atendeu mais de duas mil pessoas em todos os 22 municípios do país e registou um aumento significativo nos casos de depressão, ansiedade, transtorno bipolar e ‘burnout’.

Apesar das adversidades, o especialista reconhece que há sinais positivos, como a redução do estigma social e o aumento da procura por ajuda psicológica.

Também destacou a iniciativa de algumas empresas que começaram a custear consultas psicológicas para os seus colaboradores.

A Lusa tentou obter esclarecimentos junto do Ministério da Saúde, mas este remeteu para mais tarde.

A Semana com Lusa

2500 Characters left


Colunistas

Opiniões e Feedback

Liliana
10 days 4 hours

A ONU é o refúgio dos países falhados do Terceiro Mundo e que vivem à custa dos países ricos do Primeiro Mundo. G7

JCF
10 days 23 hours

Ah poisé, mas é claro que o Nuias é o verdadeiro mastermind da informática em Cabo Verde! Não foi só a governação ele ...

Filipe Veiga Alves
17 days 11 hours

Ku Nuias silva cabo verde ta pola vamos votar Nele

Pub-reportagem

publireport

Rua Vila do Maio, Palmarejo Praia
Email: asemana.cv@gmail.com
asemanacv.comercial@gmail.com
Telefones: +238 3533944 / 9727634/ 993 28 23
Contacte - nos