A Associação Cabo-verdiana de Luta Contra a Violência Baseada no Género (ACLCVBG) destacou hoje, no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, progressos alcançados e obstáculos persistentes na luta contra a violência no país.
Em entrevista à Inforpress, no âmbito do "Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres", celebrado a 25 de novembro, Virgínia Mendonça, responsável técnica da organização, reforçou a atuação da ACLCVBG na luta contra o abuso de género e as desigualdades que afetam milhares de mulheres em Cabo Verde.
A responsável fez um balanço do trabalho realizado até agora, destacando os desafios persistentes e as acções concretas que a associação tem implementado para combater a violência contra a mulher no arquipélago.
A ACLCVBG tem-se dedicado a ações de prevenção, sensibilização e apoio às vítimas, com um trabalho que abrange comunidades, escolas e universidades, em busca de transformar mentalidades e comportamentos, prevenindo a violência antes que ela aconteça.
Segundo Virgínia Mendonça, o foco principal da organização é combater as causas profundas da violência, promovendo a educação sobre género e cidadania.
"Realizamos campanhas de sensibilização para desmistificar as formas de violência e educar a população sobre os direitos das mulheres", afirmou a responsável.
Apesar dos esforços, a violência contra as mulheres continua a ser uma “realidade alarmante” em Cabo Verde e a associação considera que, embora a legislação tenha avançado, a sociedade cabo-verdiana ainda enfrenta dificuldades em erradicar a violência baseada no género.
"A violência contra as mulheres é um problema estrutural e cultural. Vemos no dia a dia exemplos de violência verbal e psicológica que são socialmente aceitáveis. Ainda existe uma cultura de tolerância com o abuso", apontou.
A associação tem dado “grande importância” à educação como ferramenta fundamental para a prevenção da violência, indicou, e o trabalho com jovens e crianças, em particular, é considerado estratégico para mudar as mentalidades desde a infância.
"Acreditamos que, ao educar as novas gerações sobre a igualdade de género e os direitos das mulheres, conseguimos formar uma sociedade mais justa e sem espaço para a violência", salientou Virgínia Mendonça.
A responsável técnica também apontou um dos maiores desafios enfrentados pela organização que é o “acesso desigual” à informação e aos recursos de apoio às mulheres, especialmente nas zonas rurais e mais remotas do país.
"Embora existam recursos e serviços disponíveis, o acesso a essas informações nem sempre é igual para todas as mulheres, principalmente para aquelas que vivem em áreas mais isoladas", lamentou.
Segundo ela, a ACLCVBG tem-se esforçado para ultrapassar essas barreiras, mas precisa de mais apoio, principalmente financeiro, para chegar a todas as comunidades.
"Cabo Verde tem uma legislação robusta que protege as mulheres, mas a sua aplicação é um desafio. A justiça precisa ser mais célere e eficaz. As mulheres ainda enfrentam obstáculos para ver os seus casos resolvidos de forma rápida e justa", afirmou.
Virgínia Mendonça destacou, no entanto, o empenho das forças de segurança e da justiça, embora acredite que ainda há muito por fazer.
"A atuação das polícias e da justiça tem melhorado, mas o processo é moroso e, muitas vezes, as vítimas ficam desmotivadas pela lentidão no tratamento dos seus casos", concretizou.
Em virtude do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, a ACLCVBG tem intensificado as suas ações de sensibilização.
Para o dia 25 de Novembro, que se insere nos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, além da realização de campanhas em rádios nacionais, a associação lançará um aplicativo de segurança para mulheres, denominado “The Sorority”, uma ferramenta desenvolvida em parceria com uma associação francesa.
O aplicativo permitirá que as mulheres se registem e enviem alertas de situações de risco, com acompanhamento das autoridades competentes, incluindo a polícia e profissionais de apoio psicológico.
"Este aplicativo é uma inovação importante, pois proporcionará uma forma rápida e eficiente de ajudar as mulheres em situações de emergência. Estamos muito entusiasmados com este lançamento e esperamos que ele possa salvar vidas", afirmou Virgínia Mendonça.
O relatório do Ministério Público referente ao ano judicial 2023/2024 indica um aumento de 6,4% no número de processos de crimes de Violência Baseada no Género (VBG), 11,5% nos crimes de homicídios e um aumento de 1,4% nos crimes sexuais.
A Semana com Inforpress
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