A Associação de Peixeiras do Mindelo (APM) está a desenvolver um projecto de reaproveitamento de desperdício de peixe, como cabeças, tripas ou espinhas, para produzir ração animal.
Esta informação foi avançada à Inforpress, pelo coordenador de projectos da Associação de Peixeiras do Mindelo, Tancredi Rallo, que explicou que esta iniciativa piloto, executada por três peixeiras e um tratador de peixe, junta saberes tradicionais e inovação para promover o bio-empreendimento com impacto social e ambiental.
“No âmbito da redução dos desperdícios, e para fechar o círculo da economia circular, fizemos um projecto piloto de reaproveitamento de resíduos de peixe. A ideia é recolher todos os resíduos de peixe gerados no mercado de peixe, e fazer alguma coisa com eles. O que se pode fazer com o resíduo é cozinhar, secar e depois moer para obter farinha de peixe”, explicou.
Segundo a mesma fonte, a ideia é produzir farinha de peixe misturada com milho ou soja que pode ser utilizada como ração animal.
Para isso, avançou, criaram uma pequena estrutura para secagem do desperdício de peixe, protegida com rede anti-mosquito para evitar contato do produto com insectos.
“A estrutura está na Ribeira Julião e fizemos um contrato com uma empresa local de criação de galinhas para a redução do desperdício do mercado. Queremos testar para ver se este projecto pode ter um futuro positivo e rentável para algum tratador e algumas peixeiras”, informou a mesma fonte, referindo que o projecto está ainda numa fase experimental para testar a sua viabilidade, a rentabilidade, os custos e o que pode ser alterado.
Esta iniciativa da Associação de Peixeiras do Mindelo (APM) está integrada no projecto “Promoção de uma cadeia de pesca integral mais inclusiva e sustentável que favoreça o acesso aos direitos das mulheres e dos jovens no litoral de São Vicente- Amdjer d´ txeu Luta” (Mulher de muita luta).
Neste projecto a AMP conta com apoio das organizações não governamentais "Paz e Desenvolvimento" e "Coopera" e financiamento da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).
A Semana com Inforpress
Farinha de peixe ou veneno seco? A linha ténue entre reciclagem e risco alimentar
Muita gente pensa que está a aproveitar “peixe seco” para fazer ração animal, mas na realidade o que está a ser usado, na esmagadora maioria dos casos, é peixe estragado. E em muitos casos é mesmo peixe podre, cheio de vermes e larvas de moscas, com proteína já degradada. E essa porcaria, depois de seca ao sol como se fosse banana-passa, vira ração para porcos, galinhas, cabras e companhia. O problema? É que a degradação proteica e a contaminação microbiológica, além de poderem provocar doenças nos animais, geram resíduos tóxicos e compostos cancerígenos que vão directamente parar à carne, ao leite e aos ovos que nós, seres humanos, consumimos.Quem tiver dúvidas, que abra um saco de ração com “farinha de peixe” — aquilo cheira a bicho morto. Um cheiro pútrido, quase pestilento, que é o cartão de visita de um processo mal feito, sem controlo nenhum. As empresas que fazem isto muitas vezes limitam-se a secar restos e tripas ao sol, quando o mínimo exigível seria o uso de câmaras de desidratação controladas, com temperatura e higienização monitorizadas. Mas não — em vez disso, temos peixe fermentado ao sol, em ambientes húmidos, com moscas a pousar livremente e a depositar ovos.
Não se trata de desvalorizar o projecto da Associação de Peixeiras do Mindelo — muito pelo contrário: a ideia de economia circular e de aproveitamento é louvável. Mas tem que haver um mínimo de fiscalização sanitária. Porque se não se controlarem os riscos, o que começa como “bio-empreendimento com impacto social” pode acabar como foco de doenças e problemas graves de saúde pública. E é sempre o povo pobre que paga — com o que come.
Portanto, sim à inovação, sim à economia circular, mas com fiscalização a sério. O reaproveitament o não pode ser um pretexto para empurrar lixo tóxico para dentro da cadeia alimentar. Porque hoje é ração, amanhã é o teu almoço.
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