Saturday, 19 October 2024

REPORTAGEM: Camões é herói, mito ou símbolo imperialista a abater nos países que falam português

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Camões continua vivo nos países lusófonos, onde é herói, mito e também símbolo de um imperialismo, mas reconhecido por quem o ama e odeia e presente nas estantes, nas mochilas escolares, nas letras de fados ou canções hip-hop.

 

Germano Almeida, escritor cabo-verdiano vencedor do prémio com o nome do poeta, lamenta que no seu país Camões não seja “sequer um autor conhecido”.“Neste momento, Camões não existe e é uma pena”, disse, classificando-o como “uma figura importante, um grande poeta”.

Os escritores de língua portuguesa reconhecem o génio de Camões, do Minho a Timor, embora o poeta não tenha o mesmo destaque em todos estes Estados, outrora portugueses.

Camões é entendido como um grande poeta, um grande escritor e, ao mesmo tempo, um aventureiro na vida e na própria literatura”, diz à Lusa o escritor angolano Jorge Arrimar, um confesso admirador deste “poeta intemporal”.

Arrimar reconhece que a apresentação de Camões aos estudantes “nunca foi fácil”, mas acredita que, 500 anos após o seu nascimento, o poeta maior continua a fazer o seu percurso.

No Brasil, Camões é leitura obrigatória e, para muitos, um primeiro contacto com a literatura, segundo a escritora Fernanda Ribeiro, a primeira mulher a vencer o Prémio de Revelação Literária UCCLA-CML, com o livro “Cantagalo”.

“Camões é tão entranhado na cultura brasileira, que tem músicas que as pessoas pensam que os versos são de autores, músicos brasileiros, mas estão citando Camões”, disse, exemplificando com o soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”.

Germano Almeida, escritor cabo-verdiano vencedor do prémio com o nome do poeta, lamenta que no seu país Camões não seja “sequer um autor conhecido”.

“Neste momento, Camões não existe e é uma pena”, disse, classificando-o como “uma figura importante, um grande poeta”.

É natural que, no principio, Camões tenha sido visto como um representante do imperialismo e nunca mais ninguém se lembrou de ver que Camões é realmente importante para o cultivo da língua que precisamos, de facto, de ter em Cabo Verde”, afirmou.

Muitas das expressões que nós utilizamos e muitas vezes ouvimos – jogos de palavras, pequenos versos, coisas que ficaram na nossa língua - foram herdadas de Camões e as pessoas muitas vezes não têm essa noção”, afirmou.

Esta presença estende-se ainda à música, com vários fados a musicarem as letras do poeta.

A autora não descarta a possibilidade de incluir nas suas obras uma personagem inspirada em algumas das vozes imaginadas e cantadas por Camões, como o velho do Restelo, que simboliza a resistência ao novo.

Para a escritora são-tomense Olinda Beja, em São Tomé sempre existiu “muitíssimo orgulho em falar corretamente a língua portuguesa. Os pais são-tomenses proibiam os seus filhos de falar crioulo, que era considerada uma língua de segunda, terceira ou quarta”.

Os jovens ouvem falar de Camões, mas não se dá a importância que se dava”, disse, acrescentando: “Fala-se muito mais de uma Alda Espírito Santo, de uma Maria Manuela Margarido, de um Francisco José Tenreiro, do que de um Luis Vaz de Camões”.

A juventude está desmobilizada e o nosso país, de há uns anos a esta parte, tem descurado muito a cultura. A palavra cultura está muito arredada dos eventos”, lamentou.

Camões pode não ter estado em Timor, mas Timor está na obra de Camões, nomeadamente no canto X dos Lusíadas: “Ali também Timor, que o lenho manda / Sândalo, salutífero e cheiroso…”, como recordou o escritor Luís Cardoso.

É impossível falar da língua portuguesa sem falar de Camões”, disse o autor, lembrando que esta foi “uma arma de combate da resistência durante a invasão indonésia”.

À medida que em Timor vamos reconstruindo a língua portuguesa, desbaratada durante a presença indonésia, podemos fazer com que os símbolos máximos desta língua estejam presentes quando falamos da língua portuguesa”, disse.

Macau, território chinês que foi administrado por Portugal até 1999, é “um caso muito especial” no universo camoniano, como sublinhou o escritor Jorge Arrimar que, nascido em Angola, é também um poeta de Macau.

No território existe a gruta de Camões, onde se diz que o poeta terminou os Lusíadas, um mito que tem sido alimentado com romagens ao local e ao busto ali erigido.

Autor “muito consumido na Escola Portuguesa em Macau”, Camões é sobretudo valorizado pela comunidade macaense, de origem portuguesa, disse.

A Semana com Lusa 

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