O histórico Forte de Cacheu, símbolo da fundação da cidade guineense, está a entrar em ruína, com a ameaça de “o mar levar tudo”, segundo a comunidade local, que reclama a reabilitação urgente do espaço.
O forte “é o baluarte” de Cacheu, a cidade no norte da Guiné-Bissau construída a partir desta edificação de 1588, que ficou na história, assim como a cidade, pela sua ligação ao comércio de escravos.
Local de visita obrigatória para quem passa por Cacheu, na foz do rio que deu nome à cidade guineense, atualmente é a iniciativa da comunidade local que mantém o espaço, contou à Lusa Gino Gomes.
O jovem guineense recebeu formação e está envolvido no trabalho que a Organização Não-Governamental (ONG) AD (Ação para o Desenvolvimento) tem realizado nesta localidade ligada à escravatura e ao tráfico negreiro em África.
Dantes, explica Gino Gomes, era um comité do Estado que estava a gerenciar, mas mais tarde acabou por entregar-lhes o espaço "para cuidarem, para não estragar”.
A população “junta-se em massa” quando é preciso, por exemplo, fazer limpeza, mas é preciso mais do que este cuidado no Forte que só foi reabilitado em 1989, por ocasião da celebração do quarto centenário da cidade.
Uma placa num dos muros lembra que estiveram nessa celebração o antigo Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, e o então primeiro-ministro de Portugal, Cavaco Silva.
Passaram 36 anos e “agora o espaço precisa de reparação porque já está a entrar em ruína”, observou o jovem guia na reportagem da Lusa.
“Daqui a pouco tempo vai desabar, a água está a bater lá atrás, está a destruir o próprio muro. Daqui a pouco não vamos ter este espaço em condições dignas”, afirmou.
A administração central “já mandou três equipas para fazer o levantamento do que é necessário fazer”, mas até agora não houve desenvolvimentos e o forte “precisa de um melhoramento, senão a água vai levar tudo”.
“É um espaço turístico, mas só que falta a valorização do próprio espaço, não há onde comer, onde ficar mais tempo e viver o espaço como ele merece, que tem muita história e não está a ser preservado da melhor forma possível”, alertou o jovem guia.
O forte está ligado com o museu da escravatura, construído onde foi no século XVI a casa comercial para guardar os escravos, enquanto aguardavam a vinda do barco.
Além do museu, o espaço está ligado ao porto, à pequena igreja construída com a chegada da igreja católica, ao cemitério, assim como ao vale onde enterravam os escravos mortos, e onde foi construído um hotel.
O maior número de visitas ocorre entre abril e junho, sobretudo de estudantes, já que “quase todos os alunos da Guiné querem conhecer este espaço, para conhecer a história porque é aqui que começa quase toda história” do país, salientou.
Ali estão também depositadas as estátuas ligadas à história colonial da Guiné-Bissau, que a independência removeu das praças do país.
Encostadas aos muros dos fortes, e danificadas, encontram-se as estátuas dos navegadores Nuno Tristão, que descobriu a Guiné, e de Diogo Cão, assim como dos militares Teixeira Pinto e Honório Barreto.
A estátua de Nuno Tristão estava em Bula, a de Teixeira Pinto, em Cachungo, a de Diogo Cão em Bissau e a de Honório Barreto em Cacheu.
Foram depositadas no forte com a perspetiva de que regressariam às antigas praças da Guiné-Bissau, mas permanecem ali.
É também a comunidade local que olha por elas, com a ajuda da ONG AD, que aposta em projetos de desenvolvimento e preservação da memória na Guiné-Bissau.
Um trabalho que “devia ser uma preocupação do próprio Estado”, como observou o guia.
A Lusa tentou ouvir o Ministério da Cultura da Guiné-Bissau, sem sucesso.
A Semana com Lusa
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