O ministro da Cultura cabo-verdiano apontou esta quinta-feira o setor como “uma via poderosa para a diversificação económica”, num painel que, pela primeira vez, colocou a cultura no fórum de investimentos anual do país.
O debate contou com diversos promotores culturais como o produtor musical 'Djô' da Silva, durante o encontro de negócios que arrancou na quarta-feira e decorre até sexta, na ilha do Sal.
“Pensem nos festivais de música que conhecem nas nossas ilhas: são autênticos motores económicos locais”, referiu o ministro Augusto Veiga, apontando para o impacto no alojamento, restauração e outros setores.
Promove-se emprego e dinamiza-se a economia, indicou.
O turismo está em crescimento, é o motor da economia do país – a par das remessas de emigrantes – e centra muitas das conversas entre os empresários presentes no fórum, com novas rotas aéreas e inaugurações de hotéis e 'resorts' no horizonte, pelo que a cultura é uma extensão natural, indicou o governante.
“O turista que vem a Cabo Verde não procura apenas sol e praia, mas também autenticidade” na gastronomia, cultura ou música, com produtos que adicionam “maior valor agregado, mais sustentável e com benefícios para as comunidades locais”, descreveu.
Isto levará ao crescimento de áreas como cinema, produção musical, design de moda e tecnologias criativas, atividades específicas que são “menos vulneráveis a choques externos, mais resilientes e que aumentam exportações”.
A informalidade do setor ainda é um problema, com fraco acesso a financiamento, a necessitar de infraestruturas adequadas e promoção da propriedade intelectual, admitiu o ministro, prometendo seguir “o caminho certo”, com parceiros, para desenvolver instrumentos de apoio à cultura e formação de qualidade.
O produtor musical 'Djô' da Silva, que trabalhou com Cesária Évora e dirige a produtora Harmonia (organizadora do Kriol Jazz Festival), referiu que “80% do negócio [da Harmonia] é feito fora do país, mas é pago em Cabo Verde, são divisas que entram”.
Além da produção, “há música ao vivo: vendemos cada vez mais espetáculos lá fora”, perto de uma centena, já este ano, nos vários continentes, acrescentou.
“Não há semana em que não haja um artista cabo-verdiano a cantar em qualquer parte do mundo” e isso é uma riqueza que “volta para Cabo Verde”, disse.
Um riqueza que pode crescer, mas faltam patrocínios: “Dificilmente os privados têm confiança e investem na cultura, não só em Cabo Verde”, mas noutros pontos de África, disse 'Djô' da Silva, numa alusão à sua experiência de quatro anos na Costa do Marfim.
“Temos milionários que investem no imobiliário, mas não na cultura” e que, quando financiam o setor, “pensam que estão a dar uma ajuda, não a fazer negócio”.
Um ponto de reflexão sublinhado pelo ministro da Cultura: apostar no setor “não é só apoiar artistas, é apostar em empregos e exportações”, referiu, antes de alguns dos intervenientes relatarem as suas experiências.
Entre eles, a cineasta Natasha Craveiro mostrou como a cultura “é uma fábrica de sonhos que também paga salários”, e o empreendedor Saulo Montrond mostrou como pôs de pé um canal de televisão (TVA) em vários países lusófonos e ainda anseia criar um centro de produção audiovisual e de entretenimento em Cabo Verde.
O Governo cabo-verdiano assinou um memorando de entendimento com a Sociedade Financeira Internacional (IFC), do grupo Banco Mundial, no início do mês, em Washington, que pode conduzir a financiamentos na área da cultura.
O documento prevê apoio à construção de uma casa museu dedicada a Cesária Évora, no Mindelo, ilha de São Vicente, a realização de um estudo de impacto económico da cultura e a construção do pré-conservatório de música para jovens, a nível da região oeste africana.
A Semana com Lusa
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