Cabo Verde realiza no próximo dia 18 de abril as segundas eleições (legislativas) em contexto pandémico, no curto espaço de seis meses e que deveria pelo menos limitar as ações das várias candidaturas. Todavia, segundo analistas deste jornal, as evidências mostram que os partidos “não andam a respeitar as regras e orientações das autoridades sanitárias” e pelas evidências, “a sede do poder é mais importante do que a saúde dos eleitores”. Um factor que, na opinião deles, acaba por gerar “desconfiança e descrédito na classe política”, aumentando assim o nível de abstenção e o número de casos de COVID-19 pós pandemia.
Para o analista, Daniel Costa nem todos os partidos estão a cumprir as restrições sanitárias impostas pelas autoridades. Critica que os dois partidos do arco do poder (MPD e PAICV) de estarem a promover, nas redes sociais e na comunicação social, um autêntico concurso ou competição de imagens de aglomeração e ajuntamento de pessoas, muitas das quais sem máscara, o que acaba por “ contrariar as orientações sanitárias”.
“Esta é uma atitude totalmente irresponsável e cínica, uma vez que todos os dirigentes partidários, antes do início da campanha, fizeram coro às autoridades sanitárias, apelando ao não ajuntamento, ao distanciamento e uso de máscara”. Estas declarações foram feitas em entrevista ao ASemanaonline pelo analista que ainda aproveita para lembrar ao eleitorado os partidos considerados pequenos, UCID, PSD, PTS e PP, não promoveram tanto ajuntamento, provavelmente porque não possuem recursos para seduzir e mobilizar grande número de apoiantes para as suas mobilizações de rua.
Ainda segundo Costa, este tipo de comportamento” irresponsável e cínico” é que gera desconfiança e descrédito na classe política, não só aqui como em outras paragens.
Revela um sintoma de contumaz de descaso para com a saúde pública e certas parcelas das populações, destacadamente jovens e mais carenciados que são recrutados para o efeito, a troco de dinheiro, promessas e ofertas diversas, mas, habitualmente, esquecidos após as eleições.
Costa ainda sublinha que estes comportamentos das candidaturas tornam previsível o aumento de casos durante e após o período das campanhas eleitorais e um maior nível de abstenção como forma de protesto e de expressão de descrédito face à classe política.
Para evitar esse tipo de situações de risco num cenário de pandemia em eleições futuras, o analista considera ser preciso tomar, preventivamente, a nível legislativo, medidas punitivas mais duras que inibam e/ou impeçam ajuntamentos e que permitam ações efetivas da polícia e da justiça para inibir os prevaricadores durante o processo eleitoral. Por outro lado, segundo o mesmo, essas eventuais medidas legislativas deverão reforçar os poderes e capacidades de intervenção da CNE nessa matéria.
De igual modo, assegura outro analista, Alcindo Amado, que tem-se vindo a verificar um comportamento extremamente negligente dos partidos políticos concorrentes, face à esta terrível pandemia.
Segundo o mesmo, a sede do poder é mais importante do que a saúde dos eleitores. Todavia, de acordo com o mesmo, nota- se um desleixo das Autoridades Sanitárias, que poderiam ter recorrido à Polícia Nacional para disciplinar o evento e evitar ajuntamentos de pessoas.
Amada sustenta ainda que logo a seguir às eleições de 18 de Abril vem a fatura. Vai ser um desastre epidemiológico, pela qual vai-se ter que assacar responsabilidades ao Estado.
— -Daniel Costa, que é professor de profissão na Universidade de Cabo Verde e quem tem algumas obras publicadas, onde se destaca o lançamento do livro “ Dados eleitorais de Cabo Verde em 25 anos de regime democrático, no dia 27 de novembro do ano 2020. Consultar https://unicv.academia.edu/DanielHenriqueCosta
Alcindo Amado, é Engº Agrónomo (Especializado em Ordenamento Rural), Ex-Técnico da USAID (United States Agency for International Development), ainda colaborou na instalação do Centro De Estudos Agrários (INIDA) e é proprietário da Mindeltronics Enterprise. Amado foi eleito Deputado Municipal São Vicente (2008/2012) MPD e é colunista/analista de temas político-sociais no Jornal ASemana.
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