Krishna está desde 1986 preso nos Estados Unidos acusado de dois homicídios que ele nega e atribui a Pablo Escobar. "Como lido com isto? Não lido, é uma tristeza. Tenho o meu marido preso há 36 anos, primeiro no corredor da morte, agora com pena perpétua". Por um crime que, Marita sabe, ele não cometeu. "E com a Covid-19 nem consegui visitá-lo. Tive de me contentar com telefonemas de cinco minutos".
Segundo o Diário de Notícias com base na entrevista este mês à portuguesa Marita, o britânico Krishna Maharaj, nascido em Trinidad e Tobago e de etnia indiana, cumpre pena perpétua — a primeira condenação foi à morte, mas depois de vários apelos foi alterada — pelo assassínio dos empresários jamaicano-chineses Derrick Moo Young e o seu filho Duane, na Flórida em dezembro de 1986.
"Erro épico da justiça". Kris foi em 1987, aos 47 anos, condenado à pena de morte, apesar de a sua equipa de defesa alegar inconsistência na acusação. Kris afirma ter-se encontrado com os sócios no quarto do Dupont Plaza Hotel de Miami onde foram encontrados mortos, mas que estava longe na hora que a perícia indicou ser a da morte.
A defesa empreendida durante décadas "em busca da justiça" — entre insucessos e vitórias, como a que em 1997 reduziu a pena capital para prisão perpétua — consumiu toda a fortuna multimilionária de Maharaj.
Pablo Escobar envolvido? Em 14 de novembro de 2014, um ex-agente da agência antidroga dos EUA surgiu a dizer que um assassino a soldo do cartel de Medellín tinha cometido o duplo homicídio ordenado por Pablo Escobar, o traficante colombiano fundador e líder do cartel (abatido pela Polícia Nacional da Colômbia em 1993).
O tribunal da Flórida reconheceu, a 4 de abril de 2017, que as testemunhas tinham apresentado "relatos convincentes" que poderiam confirmar a hipótese de o cartel estar envolvido na morte de Derrick e Duane Moo Young e que Maharaj estaria, nessa altura, a 40 quilómetros do local do duplo assassínio.
Apesar destas declarações, mais ninguém foi detido. Diz Marita: "Claro que não detiveram mais ninguém. Qualquer um que veja o caso saberá que ele é inocente e percebe quem fez isto, já que seis narcos [membros do cartel de Medellín] admitiram que o cartel atuou neste caso. Até o infame Pablo Escobar se gabou de ter ordenado os assassínios", lamenta no email ao DN.
Advogado benévolo
Sem dinheiro, Kris tem a defendê-lo pro bono a ong Reprieve fundada pelo advogado britânico Clive Stafford Smith, conhecido por defender diversos presos na Baía de Guantánamo, hoje libertados.
Foi este advogado agora a residir na Flórida que conseguiu que a pena de "morte" de Kris passasse para "perpétua".
Um livro e um documentário
Nestes 36 anos, Marita tem lutado para não deixar esquecer o processo do homem que conheceu em Londres na década de 1970, como contou ao DN em respostas por escrito.
Além de entrevistas que Marita foi dando ao longo dos anos, conseguiu com o apoio da Reprieve a edição de um livro — Injustice, Life and Death in the Courtrooms of America — e de um documentário Kris Maharaj: Murder in Miami.
"Inocente, mas não chega para o libertar"?!
Em 13 de setembro de 2019, a Magistrada Federal Alicia M. Otazo-Reyes pronunciou-se sobre o caso: "As provas tornam claro que o requerente é inocente e que nenhum júri razoável o condenaria. Porém isto não é suficiente para o libertar".
Fontes: BBC/DN/Reprieve.org/The Guardian/Miami Herald/... Fotos: Marita e Krishna em Londres em 1973. Na Flórida em 2022.
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