Existe sim um segredo escondido nas profundezas da história geológica de Cabo Verde, destacando uma verdade extraordinária: geologicamente, somos uma entidade distinta, completamente separada do continente africano! Esta descoberta não só redefine nosso entendimento sobre nossa própria terra, mas também lança luz sobre as profundas e ricas ligações históricas e culturais que compartilhamos com Portugal.
Por Djuzé D'erriba*
«A noção de uma identidade africana para Cabo Verde ganhou força com a luta pela independência, liderada por figuras como Amílcar Cabral, Pedro Pires, Aristides Pereira e tantos outros. A busca por uma identidade nacional no período pós-colonial levou a uma reavaliação das raízes culturais e históricas de Cabo Verde, incluindo a sua relação com a África».
Além de Pangeia
A história de Cabo Verde começa muito antes de sua descoberta e colonização por Portugal. E’ extremamente importante voltarmos no tempo até o supercontinente Pangeia, que existiu durante as eras Paleozoica e Mesozoica, aproximadamente entre 300 e 175 milhões de anos atrás. Pangeia congregava quase todas as terras emersas do planeta, incluindo o que hoje conhecemos como África e América do Sul.
Com o passar do tempo geológico, Pangeia se fragmentou, dando origem aos continentes modernos e ao vasto Oceano Atlântico. No entanto, a história geológica de Cabo Verde é distinta. Nosso arquipélago, formado por atividade vulcânica sobre um ponto quente no Oceano Atlântico, é muito mais jovem do que os eventos que dividiram Pangeia. Estas ilhas emergiram do oceano há cerca de 20 milhões de anos, muito depois da separação dos continentes africanos e sul-americanos. Portanto, geologicamente, o nosso professor Semedo esta’ correto. Cabo Verde não é África'.
Cabo Verde e Portugal: Uma Ligação Histórica e Cultural
Descoberto no século XV por navegadores portugueses, Cabo Verde rapidamente se tornou um ponto estratégico no Atlântico. Durante os 500 anos de colonização portuguesa, as influências europeias moldaram profundamente a infraestrutura, a língua, a religião e a cultura do arquipélago. As estradas, pontes, escolas e muitas das infraestruturas nacionais foram desenvolvidas durante esse período, marcando permanentemente a paisagem física e cultural de Cabo Verde.
Enquanto a presença portuguesa foi indelével, também é crucial reconhecer o papel do comércio triangular de escravos. Este triste capítulo da história trouxe influências africanas, porém, em uma escala que alguns podem considerar menor comparada à herança europeia.
Africanidade em Cabo Verde: Uma Perspetiva Pós-Colonial
A noção de uma identidade africana para Cabo Verde ganhou força com a luta pela independência, liderada por figuras como Amílcar Cabral, Pedro Pires, Aristides Pereira e tantos outros. A busca por uma identidade nacional no período pós-colonial levou a uma reavaliação das raízes culturais e históricas de Cabo Verde, incluindo a sua relação com a África.
É importante entender que a identidade de uma nação é muitas vezes um mosaico de influências históricas, culturais e políticas. Enquanto Cabo Verde tem fortes laços históricos e culturais com Portugal, também é parte do mosaico africano, seja por proximidade geográfica, uma questão “gravitacional” entre aspas, laços políticos pós-coloniais ou influências culturais.
Em resumo, Cabo Verde é uma nação com uma rica tapeçaria de influências geológicas, históricas e culturais. Geologicamente distinto da África, nossa história é intrinsecamente ligada a Portugal e à Europa. No entanto, não podemos ignorar as influências africanas, por menores que sejam, em nossa identidade cultural. Este mosaico torna Cabo Verde um lugar único no mundo, um arquipélago de diversidade e riqueza cultural, mas definitivamente, o professor Brito Semedo esta’ certo, Cabo Verde não e’Africa.
.February, USA
23 de fevereiro de 2024
...
* Poeta e escritor
Terms & Conditions
Subscribe
Report
My comments