O antigo ministro da Coordenação Económica de Cabo Verde acaba de lançar para o debate mais uma proposta, considerada ousada por académicos, para o sector financeiro. António Gulaberto do Rosário considera que o Acordo de Cooperação Cambial (ACC), assinado há 20 anos, com Portugal, precisa de evolução e melhorias e apontou a “eurorização” completa da moeda cabo-verdiana com uma das hipóteses dessa evolução.
Está lançado o debate sobre a proposta do ex-minisitro da Coordenação Económica para a «eurorização« completa do escudo cabo-verdino. Para académicos, «esta sugestão relativamente ousada do antigo governante não deve ser totalmente ignorada», já que, em alguns sectores, as ideias de Gualberto do Rosário nem sempre são levadas a sério.
Este, que foi também ex-Primeiro-ministro em substituição de Carlos Veiga, tinha aventado, na década de 90, construir enormes túneis que ligam os três concelhos de Santo Antão e produzir morango em quantidade suficiente e com qualidade em todo Cabo Verde. Mesmo não atingido aquelas dimensões, hoje existem pelo menos dois túneis na estrada que liga Porto Novo -Paul construída pelo governo de José Maria Neves e alguma produção de morango no país,principalmente em Santiago.
Referindo-se à proposta da «eurorização» da moeda cabo-verdiana, Gualberto do Rosário, que assinou o acordo em 1998, e que foi orador na conferência comemorativa dos 20 anos de assinatura desse acordo entre Cabo Verde e Portugal, indicou, segundo a Inforpress, que o mesmo está desactualizado, precisando de algo de diferente para se adequar ao contexto actual.
Para além da economia cabo-verdiana estar relativamente eurorizada – “o escudo cabo-verdiano é uma fracção fixa do Euro”, argumenta que quando foi assinado o acordo, a dimensão do comércio externo era diferente.
“Hoje, é dezenas de vezes superior e o acordo tem uma linha de crédito de 50 milhões de euros para suportar a balança de pagamentos em caso de desequilíbrio, de choque externo, que hoje não serve para nada. 50 milhões não cobre sequer o período mínimo de importações suficientes para dar garantia de estabilidade ao sistema”, disse o governante citado pela agencia cabo-verdiana de noticias.
“Portanto , este acordo precisa de evolução. Precisa de melhorias ou então a evolução de um regime cambial e monetário diferente daquilo que temos hoje, mas como desenvolvimento deste”, adiantou.
Hipótese e contexto da proposta
A «eurorização» da moeda cabo-verdiana é apontada pelo ex-governante cabo-verdiano como uma hipótese. “Se se fizer a eurorização completa, em vez de ser relativa, obviamente, que há uma evolução no sentido da evolução do acordo existente, mas isso tem um contexto que é preciso explicar”, argumentou, explicando que o contexto do acordo de cooperação cambial é um contexto de opções geopolíticas de Cabo Verde.
“É assim que esse problema deve ser colocado hoje, ou seja, evoluir por que razão? Para adequar o contexto actual às novas opções geopolíticas, ou a nova oportunidade que Cabo Verde tem no domínio da geopolítica? Esta é a questão essencial”, anotou.
Gualberto do Rosário salientou que no cenário da eurorização completa, Cabo Verde não poderá estar de mente fechada, contanto que se decida dentro de um contexto claro.
“Se efectivamente Cabo Verde tiver opções geopolíticas claras e tiver como ambição, aproveitar o novo contexto, que resultou designadamente da melhor integração europeia, o contexto que resultou da crise mundial de 2008 e se tiver como preocupação tirar vantagens do novo contexto emergente, obviamente que tem que rever esse acordo nalgum sentido”, reiterou.
É de salientar que o Acordo de Cooperação Cambial entre a República Portuguesa e a República de Cabo Verde foi assinado em 1998, na cidade da Praia, pelo então ministro das Finanças de Portugal, António de Sousa Franco e pelo então ministro da Coordenação Económica de Cabo Verde, Dr. Gualberto do Rosário.
Através da assinatura do Acordo de Cooperação Cambial (ACC) estabeleceu-se, por um lado, uma ligação de paridade fixa entre as moedas dos dois países e, por outro, garantiu-se a convertibilidade do escudo cabo-verdiano através de uma linha de crédito disponibilizada por parte de Portugal.
Segundo a fonte que vimos citante, a partir da assinatura do Acordo de Cooperação Cambial, a política monetária passou a orientar-se para o objectivo primário da estabilidade de preços e do reforço das reservas externas, com vista à defesa do regime cambial de peg fixo unilateral.
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