O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano quer que a segunda cimeira da paz seja uma plataforma negocial para pôr fim à guerra, salientando que vão ser convidados representantes russos e que não há alternativas à fórmula de paz ucraniana
À Lusa, naquela que foi a sua primeira grande entrevista após ter assumido o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, em setembro, Andrii Sybiha expressou também desagrado quanto a participação de António Guterres na recente cimeira dos BRICS (bloco da economias emergentes), na Rússia, lembrando que o secretário-geral da ONU declinou participar na primeira cimeira da paz promovida por Kiev, na Suíça.
Sybiha substituiu no cargo Dmytro Kuleba, que liderava o Ministério dos Negócios Estrangeiros desde 2020, mas foi destituído no início de setembro quando o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, remodelou o executivo.
O novo chefe da diplomacia ucraniana considerou que a presença de Guterres na cimeira dos BRICS “não foi apropriada”, porque o chefe da Nações Unidas declinou o convite para participar na cimeira da paz que decorreu na Suíça, na qual a Rússia não participou.
“Não percebemos esse comportamento, essa posição e fizemos publicamente uma declaração sobre o assunto”, salientou em entrevista à Lusa.
Questionado sobre se Guterres foi convidado a participar na nova cimeira da paz que a Ucrânia está a preparar, ainda sem data nem local, Andrii Sybiha disse à Lusa que foram convidados os principais atores, incluindo as Nações Unidas, e que serão também convidados representantes da Rússia para tentar acabar com o conflito armado
“Queremos conseguir uma paz abrangente para a Ucrânia e precisamos do esforço coletivo de todo o mundo para torná-la possível”, prosseguiu.
Desta nova cimeira, frisou, esperam-se “decisões concretas” e “resultados tangíveis” com a fórmula de paz ucraniana.
“A nossa fórmula de paz dá as respostas e os passos para lá chegar”, sublinhou o ministro, afirmando que esta fórmula não é apenas ucraniana, já que é apoiada por 95 países e baseia-se na lei internacional e respeito pela integralidade territorial.
Andrii Sybiha diz que a primeira cimeira da paz não foi uma plataforma negocial, mas sim um encontro para chegar a uma posição conjunta quanto ao respeito pela integridade territorial e soberania e a um “entendimento dos países” para poder seguir em frente
“Na próxima podemos convidar os representantes da Federação Russa. Esperamos que seja uma plataforma para alcançar a paz e acabar esta fase de conflito armado e o sofrimento do povo”, afirmou, sublinhando que não há alternativas à fórmula de paz ucraniana.
“Nunca vamos reconhecer iniciativas que sejam promovidas sem nós e vamos falar com os nossos parceiros e dizer-lhes que não queremos que as suas iniciativas compitam com a nossa fórmula de paz”, referiu, deixando claro que a iniciativa da China e do Brasil para a paz não é uma alternativa.
Sobre eventuais negociações da paz, o ministro defendeu que o importante é forçar a Rússia a iniciar as negociações, destacando que a Ucrânia não irá assumir quaisquer compromissos que ponham em causa a integridade e soberania do território ucraniano.
“Nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia. Essa é a nossa posição de princípio e nunca aceitaremos nenhuma iniciativa, nem compromissos sobre a integridade e soberania do território ucraniano. Isso é inaceitável”, vincou, ainda à Lusa.
Sobre a cimeira dos BRICS (bloco de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que decorreu esta semana em Kazan, na Rússia, e que contou com a presença de grandes líderes mundiais, o chefe da diplomacia ucraniana considerou que cada país soberano tem o direito de escolher os seus aliados e as reuniões em que quer participar.
“Outra coisa é que a Rússia sempre tenta usar abusivamente esse tipo de reuniões para justificar as suas agressões, para legitimar as suas agressões. É importante entender isto”, salientou, defendendo que as conclusões da cimeira provam que “falharam” nesta intenção.
“Eles falharam em forçar outros países a aceitarem as suas visões em relação às suas agressões brutais. Eles começaram essa agressão injustificada, no dia 24 de fevereiro de 2022. Mas eu gostaria de lembrar que eles começaram essa guerra em 2014, ocupando a Crimeia. E agora, 28% dos nossos territórios estão sob ocupação russa e temos no nosso território 600 mil soldados russos”, criticou.
Nesse sentido, Andrii Sybiha pediu “uma reação forte” dos países que respeitam a lei internacional e que apoiem a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, afirmando que “a Ucrânia provou quão fraca é a Rússia”, com a operação na região fronteiriça russa de Kursk, controlando agora cerca de 1300 quilómetros em território russo.
O chefe da diplomacia ucraniana, que incluiu Angola no seu périplo por países de África e do Médio Oriente, no decurso da qual pretende promover a fórmula de paz e consolidar o apoio humanitário e energético à Ucrânia, espera que o país africano – que não participou na primeira cimeira da paz – aceite o convite para a nova cimeira.
Considerou também fundamental “a voz” e o apoio do Brasil pela sua “influência global”, agradecendo o apoio dado à integridade territorial da Ucrânia, e afirmou que tem estado em contacto com o seu homólogo brasileiro numa base regular.
Sobre o encontro do G20 que vai ter lugar em novembro, no Brasil, considerou que “seria muito importante que o Presidente Zelensky tivesse oportunidade de apresentar a sua visão de como fazer uma paz justa e abrangente e como a tornar possível”.
Andrii Sybiha frisou que é preciso também “mais solidariedade, mais compreensão e mais apoio dos países africanos”.
A Semana com Lusa
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