Uma analogia cronometrada no tempo, cheia de conotações e sapiências, no meio século de produção de energia e água em Cabo Verde (Ilha do Sal), mas que ainda falta a confiança para, entre decisores e técnicos, alcançar patamares maiores. Me auto homenageio, no intuito de homenagear todos aqueles que fizeram e fazem parte deste percurso, com mais incidência, na Ilha do Sal, para produção de dois valiosos produtos, essenciais à vida e fundamentais como fatores de produção e geração de riqueza: eletricidade e água.
Por: Efrem Soares
Volvido 50 anos da minha carreira profissional, a trabalhar na produção de água e energia no meu torrão natal, Ilha do Sal, iniciada, em 1974, na função publica, Câmara Municipal, ainda no período colonial, Empresa publica em 1979, EAS, e Electra em 1982, penso ser hora do balanço do ½ seculo, servindo a causa publica e social, que considero ser o meu propósito, por várias razões, entre as quais importa destacar:
1ª - Por trabalhar numa profissão com a qual me identifico
2ª - Por ser a razão da minha evolução na carreira, sendo eu ainda adolescente de 13 anos de idade, quando comecei a trabalhar no ramo, no ano, em que terminei o ciclo primário da 4ª classe, como auxiliar na limpeza.
Em que, três anos depois, com 16 anos de idade, passei a trabalhar, como operador chefe de turno, sendo que, em 1979, a Central Elétrica e Dessalinizadora transita da função pública para Empresa publica, EAS, onde as condições laborais mudaram para melhor.
Fomos uma das primeiras instituições da função pública a se tornar Empresa Publica, em Cabo Verde, na altura a empresa passou a ser preferida em relação ao Aeroporto do Sal e a Shell, que auferiam salários mais alto, com um operador chefe do turno, que auferia 4.000$00 mês, passar para 12.000$00, enquanto muitos, nem sonhavam com este salário, noutras paragens.
Para, em 1982, sofrer mais uma metamorfose, em que o grupo de empresas de produção de energia e água de Cabo Verde se fundiram numa só Empresa, (EAS, EAM e EP), a Electra.
Também, a criação da Electra, na altura, foi um grande salto, não só em termos remuneratórios, mas também na parte tecnológica da empresa, que foi remodelada e na parte social que determinou a institucionalização de um plano de carreira e salários, onde a maioria dos funcionários do Sal eram profissionais práticos, na maioria com a 4ºa classe.
Então, fomos incentivados a estudar para podermos progredir na carreira, criou-se, na Empresa, um centro de formação técnica em S. Vicente para o pessoal até o ciclo preparatório e os que possuíam 3º ano do curso geral para cima, foram estudar no ISECMAR.
De ressaltar que a Electra, inicialmente, com uma abrangência territorial às três ilhas e com um sistema de governação assente nas figuras de Diretor-geral a nível nacional e Diretor-delegado a nível local ou regional, funcionou e bem e deu resultados, que foram perdidos com o alargamento da base da Empresa, para acolher todas as outras ilhas.
A integração das estruturas municipais de produção de energia elétrica e água na Electra, em que todas elas, com pequenas centrais a funcionar a gasóleo, degradaram o sistema financeiro da empresa, que o novo modelo de governação assente no Conselho de Administração nunca conseguiu concertar, com tantas cisões e aglutinações, que só prioraram a situação da empresa.
Ainda no sistema da Direção-geral, no ano 2000, os trabalhadores da Electra, numa ação reivindicativa para melhorar a parte social laboral da empresa, influenciaram a assunção de um caderno reivindicativo, que, posteriormente, passou a ser ACT (Acordo Coletivo de Trabalho), em que a ilha do Sal teve um papel preponderante no processo da luta, que levou a queda do Diretor-geral de altura, obrigando o Primeiro-ministro interino a sentar na mesa para negociar, com resultados que deu estabilidade social laboral à empresa, até hoje.
Durante todo esse tempo, a Empresa Electra, por ser do Estado e por produzir dois produtos essenciais à vida e fundamentais para a Nação Cabo-verdiana, tem resistido aos momentos maus e menos bons, sem nunca atingir grandes momentos bons, porque nunca conseguiu sair dos apoios do estado e da linha vermelha, apesar do seu crescimento e da evolução tecnológica com investimentos, que também vêm do estado e que, em tempos, fez com que a evolução dos recursos humanos também acompanhassem a evolução tecnológica durante os investimentos.
Infelizmente, não passou disso e, nos últimos anos, nota-se um retrocesso, porque, no panorama social cabo-verdiana, a empresa é equiparada a função publica, assegurando subsídios de energia e água às populações menos favorecidas, iluminação publica, que, felizmente, foi assegurada à população anos atrás, altas dívidas das repartições publicas, empresas publicas e privados, para alem dos roubos de energia pela camada social rica da capital e não só, Cobrança de taxas da radio e televisão de cabo verde, assegurar o acabamento das fachadas das casas á Camara municipal, enfim uma empresa que, tendo tudo para dar certo dado aos dois produtos que coloca no mercado sem os quais, hoje em dia, não se pode viver e que pela sua procura deveriam garantir rentabilidade a empresa, é considerado deficiente.
Tudo isso por causa de políticas inadequadas, em que todos a usam sempre no segundo plano, e quando as coisas apertam, procuram solução na fragmentação e privatização, que já foram experimentadas 20 anos atrás e deu no que deu.
Não deu certo, porque Cabo Verde, sendo um Pais pequeno de pouca população e fragmentado em ilhas, que produzem energia elétrica, com grupos pequenos, que funcionando a gasóleo, elevam os custos de exploração, que são suportados pelas ilhas de maior potência e demanda, com grupos a funcionar a havy fuel, salvo a grande deceção que é a ilha de Santiago, que em princípio deveria ser o motor da empresa, mas não o foi, nem o é e, ao que tudo indica, nunca será, face a continuidade do status quo que vai permanecendo no que diz respeito as perdas e essencialmente ao roubo de energia.
Enquanto a Electra Norte luta para sair do vermelho é arrastado pela Electra Sul para o buraco negro.
O trabalho que vem sendo feito, na sensibilização da população, introdução de contadores inteligentes, pré-pagos e outros é bom e tem tudo para dar certo, mas só isso não chega, se não forem combatidas as perdas técnicas e não só, que são estatisticamente identificadas, mas, no terreno, não se vislumbra ação convincente.
Porque ainda continuamos a pensar só em termos de investimento, financiamento do estado ou internacional, em coisas que podemos usar os nossos recursos para resolver. É vergonhoso ver que, em todo este tempo percorrido, ainda não possuímos um Gabinete de Estudo e Implantação de projetos nossos!
Com tantos engenheiros e doutores, ainda só conseguimos cuidar de centrais implantadas por outros e nem isso hoje é garantido porque regredimos, agora, pagamos a terceiros, “parceiros” estrangeiros, para fazer as grandes manutenções nas nossas centrais a 100%, resumidamente não sabemos e fazemos nada.
Voltando para privatização, os acionistas compram ações e vêm com uma única intenção: investir menos e ganhar mais e nunca perder.
Agora, pergunto se isso é possível e sabendo disso porque o não fazemos nós. No passado, estes acionistas fizeram investimento, mas as coisas não derem como esperavam, abandonaram o barco e foram embora e o Estado de Cabo Verde assumiu os encargos do empréstimo com os bancos, sem nenhuma lisura para os chamados investidores acionistas, que se não ganharam, também não perderam e, conforme dizem, a contrapartida que nos deixaram é o know how, porque somos quadrados.
Quanto a minha Ilha do Sal, sinto-me triste, não poder ajudar mais do que isso e vou aproveitar o mês de heróis nacionais, liberdade de expressão e democracia para tirar fora o que me vem na garganta e na alma.
Infelizmente, estamos com uma central de produção de energia com a capacidade de produção de 16 MW em banho-maria, pronta para entrar a funcionar há quase 5 anos e não entra, enquanto isso temos uma potência alugada de 4MW de grupos a funcionar a gasóleo, durante este mesmo período.
Sal carece de medidas urgentes, porque a central com mais de vinte anos já não tem estocada para assegurar a demanda que galopa para 20 MW, somos auxiliados por Deus e pelas potências girantes de standby das grandes empresas, hotéis e da central privada da APP, que assumem uma demanda de aproximadamente 5 MW, que anos idos era a demanda da ilha, assumida toda pela Electra com todas as reservas mencionadas fora de Electra em standby.
Em tempos de boa produção eólica e solar a penetração podia ser maior, com ganhos no baixo consumo de combustível.
Apesar da produção das energias renováveis em Cabo Verde ser um mistério mantido a sete chaves, ninguém conhece os verdadeiros donos, que têm poderes para obrigar a Electra a penetrar mais nos períodos do bom vento, sem grande contrapartida, nem para Electra nem para a população, tal como foi prometido, com a diminuição das tarifas.
E não são obrigados a ter uma central backup, para cobrir demandas nos períodos de baixa produção eólica ou subsidiar parte do consumo de combustível da Electra no referido período.
Sal, a galinha de ovos de ouro, não pode ir pelo caneco, porque a sua gente e não só, não vão deixar.
Este percurso do ½ seculo foi primeiramente graças a Deus, aos meus pais e a minha família.
Quanto a minha carreira, em primeiro lugar, o meu reconhecimento vai para o meu grande amigo, Joaquim Soares Gomes, Jack D`Nhá Milia, que me abriu o caminho para essa caminhada com 13 anos de idade, junto com a sua grande equipa de pioneiros, na produção de energia e água na Ilha do Sal, Santa Maria, que data de 1959 para eletricidade e de 1972 para água.
Herminio Monteiro, José Lopes, Olavo Lopes, João Cabral, Luis Duarte, Emiliano Brito, João Varela e Hermes Monteiro são operacionais da primeira geração na produção de eletricidade e água no Sal, enquanto os da segunda geração, são praticamente do meu tempo, Manuel Castro, Luís de Brito, Hermitério Soares, Luis Firmino, Luis Silva, Manuel da Luz, Miguel Almeida, Nerino Sança e José Alberto.
Todos merecem o meu respeito e carinho, por fazerem parte do meu percurso e da minha carreira.
O Eng.º Martinho Ramos trabalhou connosco na preparação para a transição da função publica, para a empresa publica EAS, para de seguida trabalhar como Diretor do projeto da atual central da Palmeira, juntamento com Eng.º Antonino Robal e os Técnicos Mecânico e Elétrico, Adelino Santos e Carlos Pinheiro.
O Eng.º. Martinho Ramos também trabalhou na transição da empresa EAS para a Empresa Electra, sendo que, anos depois, viria a ser o seu Diretor-geral.
Na altura, em 1995, me deu o voto de confiança para ascender na carreira de chefia intermédia, com o 3º ano do curso geral dos liceus, na função desempenhada por técnicos superiores, como chefe de serviço da produção e manutenção mecânica, função que desempenhei por alguns anos, sendo que, com o crescimento da produção e com a divisão de sectores, passei a chefiar a manutenção mecânica, função que exerço até hoje;
Com os incentivos dos anos 1980, as portas abriram-se para mim, para adquirir as seguintes habilitações e formações: 3º ano do curso geral dos Liceus, formação no ISECMAR, formação no exterior, Dinamarca, Alemanha e Holanda, e 12º ano, em 2009, para em 2019 ser reconhecido, como técnico superior empresa pelo Dr. Alcindo Mota, na altura PCA da Electra.
A nossa evolução e formação académica e técnica, também, resultaram das decisões do Eng.º. Eurico Pascoal, primeiro Diretor-geral da Electra que incentivou e criou todas as condições para a evolução na carreira do pessoal técnico prático no início da formação da Electra, em abril de 1982.
Bem como dos Diretores-delegados que passaram pelo Sal, Engs. Antonino Robalo, Carlos Mélico, Luis Boby, Hipólito Gomes, Carlos Morais e António Miranda.
Também tivemos o Eng.º. César Almeida e Pedro Cruz, que foram chefes da unidade de produção e, posteriormente, o Eng.º. César Almeida exerceu a função de Coordenador-geral da Electra Sal, função exercida atualmente pelo Eng. António Miranda.
O Eng.º. Cesar Almeida foi também o meu professor no 12º ano, bem como o Deputado Eng. Manuel Monteiro, Angula da Electra, na altura, no ISECMAR.
Á toda equipa que trabalhou e trabalha comigo ate agora, Mecânicos, Irineu Barros, Manuel da Luz, Antonino Soares, Jailson Cruz, Renato Silva, Nilton Vaz, Eder Silva, Danielson Monteiro, Arlindo Gonçalves, José Gonçalves, Engs. Erique Soares e Elísio Fortes, o meu reconhecimento.
Bem como a todos os colaboradores da manutenção elétrica, chefiada atualmente pelo Eng. Anildo, outrora chefiada, pelos Engs. Pedro Cruz e Romano Martins, com os parceiros colaboradores, António Neves e Aldino Silva, hoje com mais colaboradores Eng; Zenito e Nuno Santos. `
À Condução, com grandes colaboradores que são muitos, tal que não vou conseguir enumera-los, armazém e serviço administrativo, todos estiveram no nosso processo da evolução na carreira e da evolução da nossa empresa Electra, dando o seu contributo dentro das possibilidades de cada um na formação desta grande família que é Electra.
Em contrapartida ao que a Electra me deu, para além de servir a Electra Sal, colaborei e colaboro com os conhecimentos adquiridos, com a Electra nas ilhas da Boa Vista, S. Nicolau, S. Antão, S. Vicente, Santiago, e Fogo, que me enche de orgulho destes 50 anos ao serviço da produção de energia e água em Cabo Verde.
O intercâmbio dentro da Electra foi salutar e ainda o é, embora em menor escala, na troca de informações e de conhecimentos entre técnicos e engenheiros das ilhas do Sal, S. Vicente e Santiago em razão destas Ilhas estarem dotadas de centrais de maior potência, que também tiveram e têm um papel importante no nosso crescimento profissional, com as deslocações de parte a parte, que foram praticadas com maior frequência quando as manutenções gerais eram efetuadas dentro da Electra, pelos seus técnicos.
Resta-nos desejar muita saúde e felicidades a todos de S. Antão a Brava e que Deus nos abençoe e nos permita continuar o intercâmbio de conhecimento, como antes ou mais, durante o período laboral que nos resta para reforma e que o futuro da empresa seja de sucessos.
Cidadão atento;
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