O Governo da Somália acusou a Etiópia de enviar um “carregamento não autorizado de armas e munições” para o Estado regional somali semi-autónomo de Puntland, num contexto de fortes tensões entre os dois países no Corno de África.
As relações historicamente tempestuosas entre os dois vizinhos deterioraram-se com o anúncio, a 01 de janeiro deste ano, da assinatura de um memorando de entendimento entre Adis Abeba e a região separatista somali da Somalilândia, denunciado por Mogadíscio, que o considera uma “agressão” e uma violação da sua soberania.
O acordo prevê o aluguer, por 50 anos, à Etiópia, um enorme país sem litoral, de 20 quilómetros de costa na Somalilândia, a região somali que proclamou unilateralmente a independência em 1991.
As autoridades da Somalilândia afirmam que, em troca deste acesso ao mar, a Etiópia tornar-se-ia o primeiro país a reconhecer oficialmente a sua república.
Num comunicado publicado na noite de sexta-feira, hoje publicado na imprensa local, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Somália afirmou ter “provas documentadas que confirmam a chegada de dois camiões com armas da Etiópia à região de Puntland, sem qualquer compromisso ou autorização diplomática”.
“Esta ação constitui um grave atentado à soberania da Somália e tem sérias consequências para a segurança nacional e regional”, acrescenta.
A data e o destinatário desta entrega não foram especificados.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia ainda não comentou.
Desde janeiro, a escalada de tensões entre a Somália e a Etiópia tem sido motivo de preocupação numa região altamente instável do Corno de África, assolada em particular pela insurreição dos radicais islâmicos somalis, os ‘shebab’.
Altos responsáveis somalianos têm repetido nos últimos meses que um acordo entre Adis Abeba e a Somalilândia tornaria “inevitável a partida” dos milhares de soldados etíopes destacados no seu território onde combatem os ‘shebab’, tanto no âmbito da força de paz da União Africana (UA) como a nível bilateral.
A 14 de agosto, a Somália assinou também um acordo militar com o Egito, rival da Etiópia. O Cairo ofereceu-se para participar na força da UA na Somália a partir de janeiro.
Desde julho que estão em curso negociações sob a égide da Turquia para tentar resolver a crise entre os dois países, sem sucesso até à data.
A terceira sessão de conversações, prevista para terça-feira passada em Ancara, foi cancelada sem qualquer anúncio ou explicação por parte dos protagonistas ou do país anfitrião.
A Semana com Lusa
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