Neste Dia Mundial da Saúde assinalado sob o lema “Minha saúde, meu direito”, utentes do Centro de Saúde de Chã de Alecrim, no Mindelo, querem mais humanidade no atendimento e menos tempo de espera para marcações.
Arnaldo Alves Fernandes, homem na casa dos 40 anos, foi aquele que se mostrou mais revoltado à reportagem da Inforpress a propósito do Dia Mundial da Saúde hoje comemorado e exaltado neste ano sob o lema “Minha saúde, meu direito”.
Para o nosso entrevistado, apesar das mudanças publicitadas pelas autoridades, ainda há muita coisa a melhorar, ainda mais “numa área sensível” a que as pessoas recorrem por não terem outra alternativa.
“Aqui existem pessoas que deviam escolher outro tipo de profissão”, criticou, referindo-se ao atendimento prestado por alguns profissionais do Centro de Saúde de Chã de Alecrim, zona a norte da cidade do Mindelo.
Fazendo um retrato geral, Arnaldo Fernandes disse haver “muita falta de humanismo” nos profissionais cabo-verdianos, mesmo quando se diz que a forma de atendimento ajuda no alívio de dores e “contribui muito” para a cura do doente.
Fala, afiançou, com conhecimento de causa por ter tido situações “pouco agradáveis” com profissionais do centro de saúde referenciado e, há poucos dias, confirmou ter sido “maltratado” por um médico no Banco de Urgência do Hospital Baptista de Sousa (HBS), em São Vicente.
Mas as reclamações não se restringem apenas à forma de atendimento, mas também às marcações de consultas, que por vezes, “demoram muito”.
Como exemplo, disse que há dois anos aguarda por uma consulta de Cardiologia, marcada através do centro de saúde.
“Para marcar consulta em qualquer centro de saúde, espera-se um ano ou mais, e depende da consulta. Se não, tens de arranjar dinheiro e ir para o serviço privado ou então esperar para o que Deus quiser”, lançou, adiantando que o “mais caricato” é que, no privado, se encontram os mesmos médicos e enfermeiros funcionários do Estado, mas que “agora te recebem com a maior simpatia”.
Fernandes não é o único a reclamar de demoras, também Suzilene dos Santos e Francisca Brito, sendo que esta última toma as dores que, contou, recorreu ao centro de saúde em Dezembro do ano passado para fazer a marcação de consulta de rotina, agendada somente para Setembro próximo.
“É muito tempo para uma pessoa esperar, ainda mais o meu marido que é hipertenso. As estruturas de saúde deviam organizar-se melhor porque se a pessoa tiver um problema, depois de tanto esperar, já terá avançado”, argumentou.
Entretanto, nem tudo são reclamações. Há quem elogie a postura dos profissionais e a atenção dada aos pacientes, entre estes estão Filomena Lima, Osvaldina Varela e Amélia Lopes.
“Fizeram algumas mudanças aqui, que surtiram efeito pela positiva, hoje com certeza os profissionais estão a tratar as pessoas com muito mais respeito e dão mais atenção”, assegurou Amélia Lopes, que tal como as outras é doente crónico e faz controlos rotineiros de três em três meses.
A reportagem da Inforpress contactou a responsável do Centro de Saúde de Chã de Alecrim, a médica Carla Guiomar, para fazer o contraditório, mas esta nos remeteu ao delegado de Saúde de São Vicente, que disse ser o indigitado para dar entrevistas.
Por seu lado, o responsável máximo da saúde em São Vicente, Elísio Silva justificou que a Delegacia de Saúde tem “investido e muito” nas melhorias para mais humanismo no atendimento à população.
“Temos promovido formações, praticamente duas vezes por ano a todos os nossos funcionários que trabalham na delegacia e em todos os centros de saúde da ilha”, assegurou a mesma fonte, acrescentando estarem a receber ‘feed back’ positivo dos utentes.
Por isso, asseverou, o atendimento nos centros de saúde tem “melhorado consideravelmente”, não obstante admitir que as mudanças não dependem somente do número de formações promovidas, mas, da pessoa que está à frente do serviço.
Mais ainda, sublinhou, depende também da análise feita pelo paciente, das suas condições de saúde e de “outros factores envolventes”.
“Mesmo assim, todo o paciente deve ser bem atendido, porque se procura pela delegacia ou por um centro de saúde, é porque precisa de nós. E esse bom atendimento deve acontecer desde a entrada até a saída”, considerou Elísio Silva, para quem esta postura é a principal forma de tratamento de um doente.
Quanto à reclamação de possível consulta agendada para cerca de 10 meses depois, Elísio Silva garantiu ser “quase impossível” porque de um ano para o outro normalmente não tem agenda de marcação.
“O que fazemos é colocar o utente numa lista de espera para depois ser contactado por telefone, mas, muitas vezes o que acontece é que as pessoas não atendem o telefone e ficam sem a consulta”, justificou, adiantando que o prazo normal para marcação de consultas é de cerca de três meses.
A alegada demora, asseverou, nem se justifica com o actual cenário de alguns médicos a se especializarem em Medicina Geral e Familiar e que os obriga a fazerem consultas de rotação de especialidade no Hospital Baptista de Sousa e ainda prestar serviço nas urgências de adulto e Pediatria do referido hospital.
“Claro, que cria alguma dificuldade, porque quando um médico trabalha nas urgências, no outro dia tem de ter folga e na maioria dos centros de saúde só temos dois médicos”, admitiu.
Mesmo assim, sustentou, têm feito um “grande esforço” para estar à altura da procura, com as consultas, seguimento de doentes crónicos e a demanda espontânea existente em todos os centros de saúde, na qual os pacientes são encaminhados aos médicos, caso houver necessidade, após triagem dos enfermeiros.
Quanto à consulta de Cardiologia, o delegado de Saúde confirmou fazer parte do atendimento do hospital, para onde os centros e a delegacia encaminham as marcações para essa especialidade.
O Dia Mundial da Saúde, celebrado todos os anos a 07 de Abril, marca o aniversário de fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948, e a cada ano se concentra numa preocupação específica de saúde pública.
A Semana com Inforpress
07 de abril 2024
Terms & Conditions
Report
My comments