O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, afirmou que a crise que o arquipélago vive, com as consequências económicas da pandemia e a escalada dos preços, requer medidas "gizadas num quadro de consenso" entre os partidos políticos.
Face ao "aumento generalizado de preços que se verifica atualmente", particularmente "após a eclosão da guerra na Ucrânia", com consequências para as famílias mais pobres, "e a difícil situação por que passam as empresas, com o evidente perigo de colapso e consequências muito nefastas para o emprego e o rendimento das famílias", José Maria Neves defendeu "medidas urgentes, ousadas e inovadoras".
"Tais medidas, pela sua amplitude e impacto, devem ser gizadas num quadro de consenso entre as principais forças políticas. Espero que haja abertura e disponibilidade de todos os atores políticos relevantes para tal empreendimento", afirmou o Presidente cabo-verdiano, ao final do dia de terça-feira, ao intervir nas comemorações do dia do município de Santa Cruz, ilha de Santiago.
Alertou para os "novos tempos" em que todos assistem, "impotentes, a uma situação de guerra na Europa, que ofende o bom senso e a civilização, beirando a barbárie, e que pode arrastar a humanidade para caminhos ainda mais trágicos".
"Estes terríveis acontecimentos têm lugar antes que o mundo se liberte completamente da pandemia da covid-19, e das suas consequências nefastas e duradouras para todos, incluindo para Cabo Verde. No nosso caso, e para agravar, tudo isso foi antecedido de três anos de seca severa. Como consequência desta realidade adversa, muitas famílias, as mais carenciadas, enfrentam dificuldades acrescidas, a pobreza aumentou e o PIB recuou 14,8%. Esta conjuntura exige que sejamos ainda mais resilientes", disse.
José Maria Neves foi empossado como Presidente da República de Cabo Verde em novembro passado, depois de ter sido primeiro-ministro do país, pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), de 2001 a 2016.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva — Movimento para a Democracia, partido com maioria - pediu na sexta-feira "contenção e poupança" no consumo de combustíveis e eletricidade, face à crise de preços, e anunciou cortes nas despesas públicas para financiar as medidas de mitigação, que implicam a subsidiação ao congelamento de preços dos combustíveis e alimentos da cesta básica.
Numa mensagem ao país, centrada na escalada de preços devido ao conflito na Ucrânia e no anúncio de medidas de mitigação que serão colocadas em prática em Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva sublinhou que "a tendência do aumento dos preços dos combustíveis é grave".
"Apelamos aos cidadãos: contenção e poupança no consumo de gasolina, gasóleo e eletricidade. O Governo vai reforçar a fiscalização no cumprimento da lei quanto ao uso de viaturas do Estado. Consequências e mão dura sobre o não cumprimento da lei vão ser implementadas", afirmou.
O primeiro-ministro referiu que "o Governo vai tomar medidas de contenção noutros consumos e gastos do Estado", recordando que o mundo vive agora "em economia de guerra".
"Ainda sob os efeitos económicos e sociais da pandemia somos novamente confrontados com uma nova crise. Uma grave crise, derivada da guerra na Ucrânia, com impacto sem precedentes na escalada mundial de preços de combustíveis, de produtos agroalimentares e de `commodities`", insistiu, garantindo que "medidas de mitigação e de proteção vão ser implementadas".
"Destaco a estabilização de preços de combustíveis, do trigo, do milho, do arroz, de óleos alimentares e de leite em pó", acrescentou, recordando que foi, entretanto, criado um gabinete de crise, a que preside, prevendo que serão comunicadas ao país, de forma regular, as medidas adotadas.
De acordo com o anúncio feito pelo chefe do Governo, vão ainda avançar medidas como o "reforço da capacidade de `stockagem` de cereais a granel" e das "ações de fiscalização para evitar o açambarcamento de produtos de primeira necessidade e a especulação de preços".
A Semana com Lusa
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